quinta-feira, 7 de agosto de 2014

No Reino Unido o exemplo vem de cima

É sabido que os membros masculinos das casas reais europeias têm uma importante parte da sua educação assente na formação militar, passando habitualmente pela sua incorporação activa nos três ramos das Forças Armadas. Esse facto é particularmente notório no Reino Unido, onde os elementos masculinos da Casa de Windsor frequentam as escolas militares e prestam serviço em diferentes unidades militares. Esta atitude inspira-se no exemplo cívico da Rainha Isabel II que durante a 2ª Guerra Mundial serviu no Auxiliary Territorial Service, durante os bombardeamentos alemães sobre algumas cidades inglesas.
Assim, o exemplo vem de cima e os deveres de cidadania são assumidos pelos príncipes. O seu filho Andrew é comandante da Royal Navy e serviu como piloto de helicópteros na guerra das Falklands, tendo voado em várias missões militares de alto risco e de evacuação de feridos nesse teatro de operações. O seu neto Harry pertenceu ao regimento Household Cavalry e esteve no Afeganistão a combater os talibãs durante dois meses, integrado nas forças expedicionárias britânicas. O outro neto da Rainha é o príncipe William, que é o segundo na linha de sucessão ao trono e que se qualificou em 2010 na RAF, tendo servido como piloto de helicópteros no serviço de busca e salvamento e realizado 156 missões operacionais e resgatado 149 pessoas.
Agora, um ano depois de ter deixado a RAF, o príncipe William decidiu aceitar um convite para voltar a voar ao serviço de uma empresa privada – Bond Air Services – a quem está adjudicado o East Anglian Air Ambulance, isto é, as missões de serviço público de transporte em ambulância aérea de doentes e feridos. A notícia foi divulgada pela CNN e é a primeira vez que um membro da Família Real Britânica aceita um emprego civil, embora o seu salário vá reverter na sua totalidade e por sua iniciativa pessoal para instituições de caridade. É com estes exemplos de devoção à causa pública que a Monarquia Britânica sobrevive.    

A banca e os banqueiros sob suspeita

No passado dia 3 de Agosto o país foi informado das decisões tomadas relativamente ao Banco Espírito Santo (BES) e da intervenção do Banco de Portugal (BP): o fim do BES e a separação entre os chamados activos problemáticos (banco mau) e os restantes activos e passivos que serão integrados no Novo Banco (banco bom), o qual iria receber um empréstimo público de 4.900 milhões de euros.  Menos de 24 horas depois do anúncio do fim do BES, o governo decidiu falar para colher os méritos se a coisa correr bem e para sacudir a água do capote se a coisa correr mal. Assim, através da ministra das Finanças que foi à televisão elogiar o governador do BP e explicar a operação, o governo veio assegurar que “este empréstimo não tem risco para os contribuintes”.
Muitos comentadores e alguns porta-vozes dos partidos da maioria trataram de elogiar a solução encontrada num fim de semana de Verão, com o primeiro-ministro de chinelos e calções na algarvia Mantarota (com um enorme cordão de segurança que a televisão não conseguiu esconder), enquanto o governo dirigido pelo irrevogável ministro se reunia por via electrónica para tratar de um assunto destes, como se fosse coisa menor.
Foi dito que a operação não implicava custos para o erário público e que os clientes iriam poder realizar junto do novo banco todas as operações que antes realizavam junto do BES. Porém, houve muita gente que não foi nesta conversa e que, logo na dia 4, correu para os balcões do seu ex-BES para levantar as suas poupanças, tendo havido 200 milhões de euros que nesse dia transitaram para a Caixa Geral de Depósitos (CGD), conforme revela a edição de hoje do Público. No 1º semestre do ano o BES já tivera uma redução de 310 milhões de euros no seu volume de depósitos e, ao longo do mês de Julho, o movimento de contas particulares do BES para a CGD foi muito assinalável, nele se incluindo o já famoso levantamento de 128 milhões de euros feito pela Portugal Telecom. Afinal, parece que ninguém confia no ex-BES e que pouca gente confia no paleio do governo e do BP, nem na história do banco bom. Tudo isto é muito mau e começa a ser evidente que a factura vai sobrar para o pessoal do costume. Sempre os mesmos de um lado e sempre os mesmos do outro deste teatro mentiroso. Uma tristeza e uma vergonha!