sábado, 8 de setembro de 2018

O negócio do armamento tem muita força

Ontem em San Fernando, na orla sul da baía de Cadiz, cerca de 1500 trabalhadores da Navantia, a empresa estatal espanhola que é o quinto maior construtor naval da Europa e o nono maior do mundo, cortaram a estrada de acesso à cidade de Cadiz e fizeram uma grande manifestação, a que o Diario de Cadiz chamou la batalla de las corbetas. O caso que mexeu com os trabalhadores da Navantia é complexo.
No passado mês de Julho foi assinado um contrato com a Arábia Saudita para a construção de cinco corvetas por 1813 milhões de euros, que assegura 6000 postos de trabalho directos e indirectos. Porém, em 2015 o governo espanhol tinha decidido vender 400 bombas laser de fabrico americano pertencentes ao Exército espanhol, muito sofisticadas tecnologicamente e que poucos países possuem. As bombas já estão pagas, mas a nova ministra da Defesa Margarita Robles achou esta operação de venda muito opaca e ordenou o seu cancelamento, com o argumento de que essas bombas iriam ser utilizadas contra a população na guerra do Iémen. As autoridades sauditas reagiram com apreensão a esta notícia, que pode levar ao cancelamento do contrato das corvetas. Nessas circunstâncias, o pessoal da Navantia veio para a rua protestar contra o cancelamento da venda das bombas, porque não quer perder o contrato das corvetas com a Arábia Saudita.
E agora, está o governo espanhol de Pedro Sanchéz com um grande dilema: se cancela a venda das bombas, arrisca-se a perder o contrato das cinco corvetas, mas para garantir a construção das corvetas, as suas bombas vão contribuir para que haja mais destruição e mais tragédia no Iémen. Certamente que o governo espanhol procura soluções intermédias, mas a economia vai certamente prevalecer sobre a ideologia governamental e sobre a renúncia à brutalidade da guerra.