Ontem
em San Fernando, na orla sul da baía de Cadiz, cerca de 1500 trabalhadores da Navantia,
a empresa estatal espanhola que é o quinto maior construtor naval da
Europa e o nono maior do mundo, cortaram a estrada de acesso à cidade de Cadiz
e fizeram uma grande manifestação, a que o Diario de Cadiz chamou la batalla de las corbetas. O caso que
mexeu com os trabalhadores da Navantia é complexo.
No passado mês de Julho foi
assinado um contrato com a Arábia Saudita para a construção de cinco corvetas
por 1813 milhões de euros, que assegura 6000 postos de trabalho directos e
indirectos. Porém, em 2015 o governo espanhol tinha decidido vender 400 bombas laser
de fabrico americano pertencentes ao Exército espanhol, muito sofisticadas
tecnologicamente e que poucos países possuem. As bombas já estão pagas, mas a nova ministra da Defesa Margarita Robles achou esta
operação de venda muito opaca e ordenou o seu cancelamento, com o argumento de
que essas bombas iriam ser utilizadas contra a população na guerra do Iémen. As
autoridades sauditas reagiram com apreensão a esta notícia, que pode levar ao
cancelamento do contrato das corvetas. Nessas circunstâncias, o pessoal da
Navantia veio para a rua protestar contra o cancelamento da venda das bombas,
porque não quer perder o contrato das corvetas com a Arábia Saudita.
E agora, está
o governo espanhol de Pedro Sanchéz com um grande dilema: se cancela a venda
das bombas, arrisca-se a perder o contrato das cinco corvetas, mas para
garantir a construção das corvetas, as suas bombas vão contribuir para que haja mais destruição
e mais tragédia no Iémen. Certamente que o governo espanhol procura soluções
intermédias, mas a economia vai certamente prevalecer sobre a ideologia governamental e sobre a renúncia à brutalidade da guerra.
Sem comentários:
Enviar um comentário