domingo, 23 de janeiro de 2022

Quem provoca quem na Ucrânia?

Há uma grande azáfama militar na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, havendo uns a dizer que se trata de um barril de pólvora e outros a opinar que a guerra está iminente. Há inúmeras teorias sobre quem provoca quem, mas o facto é que os russos têm mais de cem mil soldados prontos a invadir a Ucrânia, enquanto a NATO se afirma ao lado da Ucrânia e a vem armando com material letal e mísseis de curto alcance entregues pelos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Turquia, Lituânia e Letónia, entre outros.
Dizia um comentador que os Estados Unidos precisam sempre de uma guerra para poderem alimentar a sua poderosa indústria do armamento. Porém, a opinião pública americana parece já não aceitar que os seus soldados se percam em guerras desprovidas de sentido e, por isso, inventaram um novo modelo de intervenção militar que dá pelo nome de "coligação", em que lhes cabe fornecer o material bélico e assegurar a superioridade aérea. Significa que preparam os conflitos e depois deixam que outros se enterrem com eles, como sucedeu no Iraque e no Afeganistão, mas não na Síria.
A Espanha decidiu ser solidária com a NATO e vai entrar nesta "coligação", segundo revelam vários jornais espanhóis. Segundo o jornal el Correo Gallego a fragata Blas de Lezo vai incorporar a força naval da NATO no mar Negro e “zarpa de Ferrol hacia el polvorín ucraniano”, mas esta decisão já deu origem a críticas ao governo espanhol por participar na escalada militarista em curso. Porém, a ajuda espanhola não se fica por aqui, porque segundo revela o jornal El País, a “España enviará en febrero cuatro cazas a Bulgaria com la OTAN”.
Melhor seria que a Espanha, bem como todos os países da Europa, tomassem uma posição negocial séria e consequente para evitar a guerra, em vez de agitarem o ambiente de rivalidade estratégica russo-americana, o que objectivamente fazem com este apoio de uma fragata e quatro caças espanhóis, que nem sequer vão incomodar Vladimir Putin.

A Base de Metangula: história e memória

Na sua edição de sexta-feira o jornal moçambicano O País destaca em manchete que “Nyusi revitaliza Base Naval de Metangula em Niassa”, para melhor servir a Marinha de Guerra, como parte da estratégia de combate ao terrorismo no norte do país. Esta notícia não pode deixar de emocionar as muitas centenas de portugueses que desde o início dos anos sessenta construíram aquela base nas margens do lago Niassa, dotando-a de todas as infraestruturas necessárias, incluindo uma estação radionaval, uma pista de aviação e um serviço de assistência oficinal para apoiar as unidades navais transferidas por via terrestre desde a costa do oceano Índico.
A base naval de Metangula era o centro operacional responsável pela fiscalização de cerca de 120 quilómetros da orla do lago Niassa, entre as fronteiras com a Tanzânia e com o Malawi, tendo sido criado um polo avançado na antiga missão do Cobué, a cerca de 50 quilómetros para norte de Metangula. Na “ocupação” de Metangula pela Marinha portuguesa foi dada particular atenção à população residente, que passou a dispor de assistência médica e para a qual foi criada uma escola que chegou a ter 350 alunos.
Metangula foi um exemplo notável da enorme capacidade realizadora da Marinha portuguesa e da adaptação dos seus elementos às condições de isolamento, mas também de apoio às populações durante a guerra colonial. Com a descolonização e a independência de Moçambique em 1975 a base foi abandonada, mas a notícia de que a está a ser qualificada e reabilitada é verdadeiramente emocionante para aqueles que, entre 1964 e 1974, conheceram a guerra em Moçambique e, em especial, no longínquo lago Niassa.