É com muita mágoa
que escrevo sobre a inusitada violência
que se abateu sobre um Feliciano – é esse o título escolhido pelo jornal
i – pelo que aqui declaro, que não é meu propósito atacá-lo
pessoalmente, nem alinhar com os seus companheiros de partido que o espremeram,
embora alguns deles sejam tão Felicianos quanto o Barreiras Duarte do
Bombarral.
Um Feliciano não
incomoda ninguém nem tem expressão estatística, mas o facto preocupante é que
temos demasiados Felicianos no nosso país, isto é, gente que desistiu de
estudar e de aprender, que optou pelo facilitismo, que se encostou ao
oportunismo e que se tornou parasita da vida político-partidária, tratando da
sua vidinha em vez de tratar do interesse público. São um tipo especial de xico-espertos sem pudor nem vergonha, que
procuram uns títulos académicos para decorar o seu nome e disfarçar a sua
ignorante pequenez, que não têm outro passado que não sejam os cargos que os
compadrios da política lhe trouxeram, nem outra actividade que vá para além do
uso e abuso das vigarices, das mentiras e dos truques.
Os Felicianos
procuram escolas de segunda ou terceira categoria para sacar um qualquer grau
académico que lhes dê importância social, não frequentam aulas e desconhecem o
mérito resultante do valor do trabalho metódico e da humildade da aprendizagem.
Fazem exames ao domingo, requerem indevidas equivalências, escapam-se aos
exames e obtém generosas licenciaturas, como se viu com aquela enorme
quantidade de doutores em Protecção Civil, certificados em Castelo Branco. Apesar
de tudo isso, não abdicam de ser reconhecidos como o Doutor Feliciano e não
tremem nem se envergonham por isso, com tantas vezes se viu com esse Feliciano
de referência que continua a ser Miguel Relvas. São demasiados os Felicianos
que optaram por se comportar como verdadeiros travestis académicos, fazendo-se passar por engenheiros,
catedráticos, licenciados, mestres, doutores e visiting scholars.
Almada Negreiros
no seu famoso Manifesto Anti-Dantas escreveu
que “uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração
que nunca o foi”. Será que podemos plagiar Almada e imaginar um Manifesto Anti-Felicianos?