terça-feira, 9 de outubro de 2018

Montserrat Caballé e a união pela cultura

O último adeus a Montserrat Caballé deu origem a uma homenagem nacional e tornou-se num acontecimento político relevante, a mostrar que a democracia funciona até na Catalunha, apesar da existência de alguns dirigentes radicais catalães.
A morte da soprano espanhola de 85 anos de idade acontecida no passado sábado num hospital de Barcelona, a sua terra natal, consternou toda a Espanha porque ela era um dos símbolos da cultura espanhola contemporânea, com um currículo artístico singular em que fez mais de quatro mil apresentações em todo o mundo, entre óperas e recitais.
Num tempo em que as tensões têm subido de tom na Catalunha e pouco tempo depois do presidente da Generalitat ter incitado o povo a assaltar o Parlamento e de ter feito um ultimato ao governo espanhol, as cerimónias fúnebres juntaram alguns dos principais protagonistas do processo, a começar pela Casa Real representada pela Rainha Emérita Sofia de Espanha, mas também o primeiro ministro espanhol Pedro Sanchez, o presidente da Generalitat da Catalunha Quim Torra, o ministro da Cultura espanhol, o líder do Partido Popular e a presidente do Município de Barcelona. Gobierno e Govern unidos por Montserrat Caballé. A união pela cultura.
Todos os jornais publicaram a fotografia da cerimónia fúnebre. Embora todos tivessem reparado que Sanchez e Torra se limitaram a um mero cumprimento protocolar e que não trocaram palavra, a sua simples presença nesta cerimónia ao lado de apoiantes e de adversários da causa catalã, mostra que o diálogo é possível e que só esse caminho pode resolver o problema. Certamente que Quim Torra, tal como Carles Puigdemont, aprenderão que as suas legítimas aspirações independentistas não podem ser satisfeitas através de outra via que não seja a do diálogo.

Brasil escolherá Presidente na 2ª volta

O Brasil está em brasa com os resultados das eleições presidenciais, mas sobretudo está dividido e preocupado, porque os resultados da 1ª volta determinaram que Jair Bolsonaro com 46% dos votos e Fernando Haddad com 29% disputem a 2ª volta. Significa que as previsões apontadas pelas sondagens foram acertadas e, portanto, não houve grandes surpresas, pois confirmou-se a polarização da sociedade brasileira, entre a direita e a esquerda políticas ou entre a segurança a que uns aspiram e a justiça social que outros desejam. Nem Bolsonaro nem Haddad parecem ter o carisma que lhes permita mobilizar emocionalmente as multidões e, portanto, o voto dos brasileiros tenderá a seguir a razão e não a emoção. Não é fácil perceber à distância as razões que irão pesar nas escolhas dos eleitores brasileiros na 2ª volta que se realizará no dia 28 de Outubro. As sondagens indicam que Bolsonaro poderá vencer, mas as sondagens enganam-se muitas vezes. Agora que a campanha eleitoral se concentra nos dois candidatos mais votados, vai acontecer uma reflexão mais apurada dos eleitores e uma natural arrumação dos votos dos candidatos derrotados na 1ª volta e daqueles que nem sequer votaram. Os dois candidatos que se situam nas franjas eleitorais extremas da direita e da esquerda vão agora moderar o seu discurso para atrair os 25% de votos obtidos pelos candidatos moderados e vão procurar que os que não votaram não deixem de ir às urnas no dia 28. São mais de 20 milhões de votos que podem alterar todas as previsões.
Uma eleição destas não é um exercício matemático simples e, pelo contrário, é uma operação de sociologia política e de manipulação mediática muito complexa. Por isso, nem Bolsonaro tem a vitória garantida, nem Haddad já está condenado. Só que nem um, nem o outro candidato, afastam as preocupações dos brasileiros quanto ao seu futuro.