sexta-feira, 24 de maio de 2019

Índia: ganha Modi, aumenta preocupação

Depois de um processo que se estendeu por 43 dias, com votações nos 29 estados e nos sete union territories indianos, o apuramento dos resultados das eleições para os 542 assentos do Lok Sabha, ou Parlamento indiano, ficou concluído ontem. Narendra Modi, o actual primeiro-ministro indiano, assegurou um novo mandato de cinco anos e continuará no seu posto.
A vitória de Modi e do Bharatiya Janata Party (BJP), ou Partido do Povo Indiano, foi muito expressiva pois conseguiu 303 assentos e, contando com os seus aliados, contará com o apoio de 352 deputados (65%), como destaca hoje o Hindustan Times. É uma vitória esmagadora, mas que é preocupante para alguns sectores da sociedade indiana porque o BJP é, sobretudo, um partido nacionalista hindu e conservador, que defende uma Índia orientada pelo hinduísmo e que, nalgumas regiões do país, tende a perseguir muçulmanos e católicos, embora também se venha declarando como defensor do secularismo, na linha preconizada pelo Mahatma Gandhi.
Os grandes derrotados das eleições indianas foram Rahul Gandhi e o Indian National Congress, que apenas conquistou 52 assentos. Rahul falhou e nem o seu carisma familiar o salvou: bisneto de Nehru, neto de Indira e filho de Rajiv – todos primeiros-ministros da Índia – o facto é que Rahul nem sequer conseguiu eleger-se deputado pelo Uttar Pradesh, o estado que é o feudo tradicional da sua família. 
A Índia atravessa uma fase de grande progresso tecnológico e já é a potência regional que domina o oceano Índico, mas é uma sociedade complexa nas suas estruturas sociais, na existência de uma economia dualista e na persistência de uma enorme pobreza. Porém, o que certamente vai preocupar os indianos nos tempos que aí vêm será o extremismo hindu que o BJP apoia, através de milícias ultraconservadoras como são o RSS - Rashtrya Swayamsevak Sangh (União Nacional de Voluntários) ou a Hindu Yuva Vahini (Força Jovem Hindu). Muçulmanos e católicos, sobretudo no norte da Índia, têm muitas razões de preocupação, a não ser que a vitória e a poder reforçado de Narendra Modi, bem como a pressão internacional, o empurrem para a moderação e para o secularismo religioso.