sexta-feira, 16 de maio de 2025

Crónica de 4000 exercícios de escrita

Com o presente texto, a Rua dos Navegantes publica hoje o seu post número 4000 e o comentário que esta marca me sugere é que este blogue me tem sido muito proveitoso, não só para me manter interessado nas coisas que acontecem no mundo pela via da Imprensa, mas também como instrumento que me tem proporcionado um treino regular na prática da escrita.
O blogue nasceu no dia 20 de Janeiro de 2011 e é uma actividade que me acompanha há mais de 14 anos, o que corresponde aproximadamente a 745 semanas ou a 5220 dias.  Os 4000 textos escritos e publicados têm cerca de 6 milhões de caracteres e são exercícios de escrita que foram preparados de forma independente, sem sujeições exteriores de ordem política, religiosa ou cultural, essencialmente como um exercício de escrita a que me obriguei quase diariamente e quase como um divertimento.
Nunca foi minha intenção ter qualquer tipo de intervenção no espaço público. Os textos nunca pretenderam expor os meus quotidianos ou as minhas ansiedades pessoais, pois apenas procuraram observar a actualidade, tendo sido sempre mais de natureza narrativa e menos de carácter opinativo. A qualidade literária não foi a minha preocupação dominante, mas procurei evitar a desinformação (fake news), a manipulação da verdade, os temas fracturantes, o sensacionalismo e a difamação de quem quer que seja, inclusive de protagonistas políticos ou sociais com quem discorde.
Sobre o que escrevi, eu próprio tenho uma opinião assimétrica, pois enquanto tem havido textos que muito me realizaram, também houve narrativas menos conseguidas, possivelmente menos rigorosas e até opiniões menos fundamentadas.
Finalmente, uma palavra final de gratidão é devida aos meus leitores que, não sendo muitos, são muito bons: os seus comentários foram sempre um incentivo muito apreciado para que eu melhorasse as minhas observações sobre o que leio nos jornais.

Europe’s free speech problem

A mais recente edição da prestigiada revista The Economist apresenta uma ilustração na capa, com um rosto humano cuja boca é um fecho éclair, destacando um artigo assinado por Jacob Mchangama, que intitulou “Europe’s free speech problem”.
O interessante artigo parte de declarações feitas por J.D. Vance, o vice-presidente dos Estados Unidos, que há algumas semanas acusou a Europa de não proteger a liberdade de expressão.
Todos os países europeus garantem o direito à liberdade de expressão, mas em quase todos se procura limitar esse direito, ao proibirem-se discursos como a pornografia infantil, as fugas de informação de segredos de estado ou o incitamento deliberado à violência física.
Porém, o problema é mais abrangente e o facto é que, segundo o artigo referido, “os europeus estão a tornar-se menos livres para dizer o que pensam” e até as opiniões recolhidas regularmente pelo Eurobarómetro são cirurgicamente postas de lado. Cada vez mais, os europeus estão a ser cilindrados pelas burocracias de Bruxelas, pela imposição de uma unicidade de pensamento e pelos discursos irresponsáveis dos seus dirigentes que se têm envolvido num belicismo que as populações não lhes encomendaram (no caso da Ucrânia) e num vergonhoso silêncio (no caso de Gaza). A Europa tem vozes a mais, protagonistas a mais e vaidades a mais. Os dirigentes europeus adoram encontrar-se em cimeiras vazias de conteúdo, “vivem em hotéis de 5 estrelas” e estão a envergonhar a própria história da Europa. No panorama internacional contam cada vez menos, como se está a ver no caso da Ucrânia, em que ninguém com peso os quer ver à mesa das negociações.
Sim, é verdade o que diz The Economist, há mesmo um problema de liberdade de expressão na Europa.