quinta-feira, 19 de junho de 2014

As mentiras, as trapalhadas e o desnorte

Os nossos governantes andam muito desorientados e, perante as persistentes dificuldades do nosso país e as suas más políticas, reagem com mentiras, trapalhadas e demasiadas desculpas de mau pagador. A propaganda falhou e o insucesso é uma realidade. Depois da monumental farsa que foi a história da saída limpa e dos piores resultados eleitorais que os seus partidos obtiveram nas recentes eleições, o desnorte dos governantes e dos seus mais fiéis seguidores é completo e muito preocupante, enquanto o silêncio do homem do leme nos causa muita apreensão. Já não há disfarces possíveis.
O caso do ataque aos funcionários públicos é um exemplo de fanatismo e dava para rir se não fosse um assunto tão sério. Esta manhã os jornais anunciaram que o governo recusava repor os subsídios de férias dos funcionários públicos, com base nas declarações do ministro Maduro que ontem afirmou que, depois da decisão do Tribunal Constitucional, aqueles que já tinham recebido o subsídio de férias com cortes, não teriam direito a qualquer ajustamento. Aparentemente, o ministro Maduro estava seguro do que dizia, tendo as suas declarações sido apoiadas pelo irrevogável ministro Portas e por esse exemplo de boçalidade política que é o deputado Montenegro. Porém, o ministro Guedes veio hoje desmentir o ministro Maduro e anunciar que os funcionários públicos que já tivessem recebido a totalidade ou parte do subsídio de férias com o corte que estava previsto, vão afinal receber o valor em falta.
Demitiu-se o ministro Maduro por ter sido desautorizado? Não tem ponta de vergonha, nem tem coragem para isso. Significa, portanto, que ninguém se entende no governo e que muitos de nós nunca sabemos quanto vamos receber ao fim do mês. Esta gente não tem consideração nenhuma pelos portugueses. A desconfiança é total. Antes tinham a desculpa do Pinto de Sousa e da troika, agora desculpam-se com o Tribunal Constitucional. É demasiada mediocridade e muito amadorismo. É uma completa trapalhada. Andam com os passos trocados. A nau está meter água por todo o lado.

Espanha: novo rei, nova esperança?

A partir de hoje o Príncipe das Asturias tornou-se o Rei de Espanha com o nome de Filipe VI, sucedendo a seu pai Juan Carlos I que esteve no trono durante 39 anos e que dele saiu, exactamente no mesmo dia em que a Espanha também deixou de reinar no futebol mundial. Os desafios do novo rei constitucional e Chefe de Estado são enormes, porque a Espanha continua debaixo de uma crise económica e social gravíssima, os movimentos independentistas estão muito vivos e a contestação ao regime monárquico está a agitar-se nas ruas e nas redes sociais. 
Um sou um republicano moderado, isto é, não acredito que a República tenha todas as virtudes do mundo, nem creio que a Monarquia seja o mais desprezível dos sistemas políticos. Cada país ou cada comunidade escolhe o sistema que melhor se ajuste às suas realidades culturais e económicas e, de uma forma mais geral, ao seu projecto de sociedade, não sendo certo que a República Francesa seja melhor do que a Monarquia Belga, nem que a Monarquia Sueca seja melhor do que a República Finlandesa. A forma do poder é uma questão que tem um carácter simbólico, que cada país resolve de maneira soberana como melhor entende.
Por razões de ordem diversa que não serão aqui analisadas, a República Portuguesa tem especiais relações históricas e institucionais com as Monarquias Espanhola e Inglesa, olhando para o que se passa nos palácios da Zarzuela ou de Buckingham com um interesse que vai para além da simples curiosidade. Assim, somos levados a uma  curiosa comparação entre Filipe, Príncipe das Asturias (Espanha) que agora sobe ao trono com 46 anos de idade e Carlos, Príncipe de Gales (Inglaterra) que, aos 65 anos de idade continua à espera, havendo quem considere que nunca será Rei da Inglaterra. Numa altura em que as monarquias estão cada vez mais fora de moda e já não são suficientemente representativas nem exemplares, o novo Rei pode realmente representar uma renovada esperança para a sobrevivência e para a unidade da própria Espanha... y viva España!