sexta-feira, 17 de março de 2023

Incidente russo-americano no mar Negro

Foi há três dias, no passado dia 14 de março, que um caça russo Su-27 terá “colidido” com um drone americano MQ-9 Reaper, numa zona do mar Negro em que os meios aéreos americanos e russos, tripulados ou não tripulados, têm alta probabilidade de se confrontarem, acidentalmente ou não. Relativamente a essa “colisão” têm sido divulgadas diferentes versões, mas um vídeofilme publicitado pelas autoridades americanas que foi captado a partir do seu drone, permite ver que o avião russo se aproximou do drone a alta velocidade e, aparentemente, despejou combustível de forma a perturbar os seus sistemas de navegação ou de propulsão. O drone caiu, mas há dúvidas sobre se essa queda resultou da acção russa, ou se o voo foi abortado pelos próprios americanos que provocaram a sua queda. A imprensa internacional tem reproduzido algumas fotografias retiradas do vídeofilme e tem informado sobre as tentativas de ambos os lados para recuperar os destroços do drone, pois estava equipado com sensores ultramodernos. Um desses jornais é o The Wall Street Journal que afirma que este incidente foi uma provocação russa e que os Estados Unidos têm agora boas razões para dar aos ucranianos as armas de longo alcance que tanto têm pedido.
Este incidente passou-se com um meio aéreo não tripulado, provavelmente em missão de recolha de informações, mas muitos perguntam o que pode acontecer se este tipo de ocorrência envolver meios aéreos tripulados de ambos os lados e possa levar a um confronto directo entre russos e americanos. É por isso que os contactos militares entre os altos comandos americanos e russos continuam a ser um ponto importante nos conflitos em que ambos têm intervenção directa ou indirecta.

A ganância cega das indústrias de defesa

O AUKUS é uma aliança militar tripartida entre a Austrália, os Estados Unidos e o Reino Unido que visa combater o expansionismo chinês na região Ásia-Pacífico. Esta aliança foi formalizada em setembro de 2021 e, nesse contexto, acaba de ser anunciado que até 2030 a Austrália irá receber três submarinos nucleares de última geração de fabrico americano. A China e a Rússia já mostraram preocupação por este anúncio porque, segundo os seus pontos de vista, aquela aliança está a contribuir para a guerra fria naquela região e a minar a paz mundial. A China acusou a “típica mentalidade de guerra fria" dos três aliados anglo-saxónicos e avisou que a entrega destes submarinos à Austrália “apenas irá provocar uma ainda maior corrida às armas, afectar o regime internacional de não proliferação nuclear e prejudicar a estabilidade e a paz na região”.
Entretanto, nem todos os australianos concordam com as decisões do seu governo e, em especial, com os anunciados 368 mil milhões de dólares australianos que o programa dos submarinos vai custar. Uma das vozes mais críticas é a do ex-primeiro-ministro Paul John Keating, que presidiu ao Partido Trabalhista Australiano e dirigiu a Austrália entre 1991 e 1996, que afirmou que “UK and US defence firms would be the major beneficiaries of the exorbitant $368 billion price tag”.
No mesmo sentido se posiciona o jornal The West Australian da cidade de Perth que, na sua edição de ontem, satiriza o AUKUS e apresenta o primeiro-ministro Anthony Albanese “travestido de americano”, a que não faltam os óculos Ray-Ban iguais aos que usa Joe Biden.
O que aqui se salienta é que, por esse mundo fora, há muita gente a “brincar com o fogo” e que são as indústrias militares e a sua ganância pelo lucro, que alimentam as tensões, as corridas armamentistas, as guerras e o sofrimento humano no mundo.