segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A mais lusitana cidade norte-americana

Fall River é uma pequena cidade costeira do Estado de Massachusetts, na costa oriental dos Estados Unidos, nela estando fixada uma importante comunidade portuguesa ou de origem portuguesa. Estima-se que 49% da população residente na cidade seja de origem portuguesa ou seja proveniente do antigo ultramar português e, apesar dos fenómenos de integração e de aculturação que “americanizam” os emigrantes, há 37% de residentes que se reclamam de origem portuguesa. Em termos percentuais, na cidade de Fall River reside a maior comunidade luso-americana dos Estados Unidos e, naturalmente, existem na cidade vários restaurantes portugueses – Caldeiras, Lusitano, Clipper, Academica, Barcelos, Estoril, Marisqueira Azores e outros que publicitam a boa comida portuguesa.
Na cidade publica-se o The Herald News, um jornal diário fundado em 1872, que no seu noticiário reflecte frequentemente os interesses da comunidade portuguesa.
Assim aconteceu na edição de hoje, em que o jornal anuncia em primeira página e com duas fotografias, a reabertura para breve de dois restaurantes de referência na cidade: o Sagres e o Mesa 21. Ambos tinham sido vítimas de incêndio e o jornal informa que são “two of the city’s landmark restaurants”.
O Restaurante Sagres é propriedade de Vítor da Silva e é considerado o melhor restaurante português da cidade. Fica localizado em 177 Columbia St. e foi destruído no dia 6 de Julho de 2013 por um incêndio que deflagrou num apartamento localizado por cima do restaurante.
O Restaurante Mesa 21 é propriedade de Peter de Sousa, fica localizado em 21 Lindsey St. e também foi destruído por um incêndio.
Ambos vão reabrir em breve. É bem curioso verificar como a reabertura de dois restaurantes tem destaque no principal jornal da cidade, a evidenciar como Fall River é a mais portuguesa cidade dos Estados Unidos.

A enorme degradação do serviço público

Nos últimos tempos temos sido surpreendidos por notícias relativas a uma generalizada falta de pessoal nos serviços do Estado, de que vem resultando uma degradação da qualidade dos serviços, com notórios prejuízos para os utentes e para a população em geral. Há tempos foi a questão da colocação dos professores e o atraso no arranque escolar em muitas regiões do país. Depois foi o bloqueio do sistema de justiça por razões informáticas, mas também por falta de pessoal. A seguir tivemos a Segurança Social a mandar centenas de trabalhadores para a requalificação que, como sabemos, é a ante-câmara do desemprego. Agora foi a notória falta de médicos e de outro pessoal de saúde em diversos hospitais, de que resultaram inadmissíveis tempos de espera e casos de morte à porta das urgências hospitalares. Reduzir serviços, dispensar pessoal e comprimir despesas, tem sido o lema. Tudo isto acontece pela obcessão governamental pelo chamado emagrecimento do Estado, embora os responsáveis esqueçam que essa redução deva “manter a qualidade na prestação do serviço público”.
Hoje o Jornal de Notícias vem dar-nos uma explicação: a Função Pública encolheu o dobro do exigido pela troika.
Desde 2011, o ano em que a troika chegou a Portugal, a Função Pública perdeu cerca de 80 mil trabalhadores e a redução está a decorrer a um ritmo que, no mínimo, é o dobro daquilo que foi programado. De facto, o Memorando de 17 de Maio de 2011 estipulava: “limitar admissões de pessoal na Administração Pública para obter decréscimos anuais em 2012-2014 de 1% ao ano na Administração Central e de 2% nas Administrações Local e Regional”. Porém, tal como prometeram e se vangloriaram, os governantes quiseram ir para além da troika. E foram. Assim, eles são os responsáveis por esta degradação da qualidade dos serviços públicos a que temos direito.