Com 90 anos de
idade, faleceu ontem em Capetown o arcebispo Desmond Tutu (1931-2021), uma das
mais importantes figuras da Igreja Anglicana na República da África do Sul. Era amigo
e companheiro de luta de Nelson Mandela (1918-2013), o homem que dirigiu o movimento
do Congresso Nacional Africano (ANC) e foi o primeiro presidente eleito do país
entre 1994 e 1999.
Desmond Tutu foi
o primeiro negro nomeado deão da catedral de Johanesburgo e em 1976 foi
sagrado bispo da diocese de Lesoto, onde intensificou a sua luta contra o apartheid e a favor dos direitos civis
iguais para toda a população. Em reconhecimento da sua corajosa luta, em 1984
foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Paz, a que se seguiu a atribuição de
diversos títulos honoris causa por
diversas universidades americanas e europeias. A partir de 1990, quando Nelson
Mandela foi libertado, depois de 28 anos de prisão, Desmond Tutu tornou-se um
dos seus principais apoios, quando já se tornara o primeiro negro a ocupar o
cargo de arcebispo de Capetown.
Em 1992 foi referendado o apartheid, que veio a ser extinto em 1994 com as primeiras
eleições sul-africanas que Nelson Mandela venceu. Com o fim do apartheid, o arcebispo Desmond Tutu
continuou a ser uma figura central da política sul-africana, muito respeitado pela
população e sempre apostado na luta contra a segregação racial. Na sua corajosa
luta pela igualdade racial esteve sempre ao lado de Nelson Mandela, dizendo que “a voz de Desmond Tutu será sempre a voz dos que não têm voz”. A
partir de 1996 veio a presidir à Comissão de Reconciliação e Verdade destinada
a promover a integração racial sul-africana, depois de cerca de 50 anos de apartheid.
Quem conheceu o apartheid viu como era desumano, cruel e indigno. Quem lutou contra o apartheid foi muito corajoso e Desmond Tutu foi um deles. A sua morte foi destacada pela
imprensa americana e europeia de referência, designadamente pelo jornal
londrino The Guardian, que o classificou como "o campeão universal dos direitos humanos".