Carlos Manuel
Serpa de Matos Gomes, Coronel de Cavalaria e Capitão de Abril, deixou-nos ontem
aos 78 anos de idade e, segundo foi comunicado pela família, “partiu sereno e
com as músicas de Abril”.
Aquela triste
notícia foi um choque para os seus amigos e enlutou todos os que com ele
combateram na Guiné e lhe conheciam a coragem física, a lucidez da inteligência
e os ideais democráticos, mas também a sua vasta cultura, a excelência da sua
obra literária e os seus conhecimentos sobre a nossa história contemporânea.
Carlos de Matos
Gomes foi um militar brilhante e um combatente de eleição que serviu nos
Comandos, tendo participado em muitas operações militares, de que se destaca a Operação Ametista Real, uma das mais
ousadas que se realizaram na Guiné, quando o PAIGC e os seus aliados cubanos já
dominavam boa parte do território. A violência da guerra foi a sua inspiração
para sonhar com a Paz e para lutar pela Democracia, sendo um dos primeiros
capitães a conspirar activamente em torno do ideal que levaria ao 25 de Abril
de 1974.
Com o pseudónimo
de Carlos Vale Ferraz publicou várias obras literárias sobre o tema da guerra
colonial, em que se destaca o romance “Nó Cego” e, como investigador, publicou várias
obras de natureza histórica em parceria com o Coronel Aniceto Afonso, de que
sobressai “Guerra Colonial”. No ano passado,
usando o seu próprio nome, publicou “Geração D” que é uma homenagem e uma
biografia da geração que conheceu a ditadura, a repressão, a guerra colonial e
fez o 25 de Abril de 1974.
O desaparecimento
físico de Carlos de Matos Gomes, de que eu era amigo há mais de 50 anos, é uma
perda irreparável para toda a geração que sonhou com um país livre,
democrático, pacífico e socialmente justo.