segunda-feira, 26 de março de 2018

Os voluntários dão lição aos políticos


Foto SIC Notícias

No dia 15 de Outubro de 2017 aconteceu o grande incêndio que consumiu cerca de 80% dos 11.080 hectares do Pinhal de Leiria. Desde então, essa catástrofe bem como os outros trágicos incêndios que devastaram o país no Verão do ano passado, têm servido para revelar inúmeros “especialistas” em gestão e em incêndios florestais e, também, para procurar os principais “culpados” pelo que aconteceu, numa lógica de combate político.
Porém, enquanto os políticos e os jornalistas têm passado o tempo a discutir quem tem mais culpas ou mais responsabilidades, iludindo que o problema é muito mais complexo do que parece e esquecendo a sua função pedagógica, a sociedade civil tomou iniciativas e tem promovido acções de voluntariado que têm mobilizado alguns milhares de cidadãos que, de todo o país, se têm organizadamente empenhado em acções de reflorestação do Pinhal de Leiria.
Algumas associações ambientalistas, assim como grupos constituídos em empresas e autarquias, têm-se destacado nessas acções, mas no passado domingo houve cerca de cinco mil voluntários que plantaram 67 mil e quinhentos pinheiros bravos. É pouco, mas foi um sinal de interesse pelo bem comum e, por isso, merece muitos elogios. Nesta acção participaram muitas crianças e houve a ajuda de militares e bombeiros, o que constitui uma grande lição para todos os que falam, falam... mas não fazem nada.
É certo que são necessárias pelo menos 3 milhões de árvores para plantar, mas a iniciativa do passado domingo, bem como o envolvimento do Presidente da República e do Primeiro-Ministro em iniciativas semelhantes, é um sinal positivo para a sociedade porque contribui para a sensibilização da comunidade e para os comportamentos amigos da floresta, que muita gente parece não conhecer.
Lamentavelmente, os jornais de referência não destacaram este assunto e, por isso, é um caso de mau jornalismo, a suscitar uma simples pergunta aos seus editores: qual é a agenda por que se regem?

Os novos episódios da questão catalã

A questão da Catalunha, a região autónoma espanhola em que metade da população quer ser independente e a outra metade não quer, teve ontem mais um episódio relevante, quando Carles Puigdemont foi detido pela polícia alemã na sequência de um pedido das autoridades judiciais espanholas.
Não se sabe se Puigdemont se distraiu ou se quis ser detido, nem se vislumbra se quer ser um líder no exílio ou um mártir na Catalunha, mas o facto é que os independentistas catalães vieram para a rua protestar e que esta detenção fez reanimar a contestação às instituições espanholas e a conflitualidade nas ruas das cidades catalãs, onde de imediato houve confrontos e se verificaram alguns feridos.
A Espanha é um estado soberano cuja Constituição diz, no seu artigo 2º, que “la Constitución se fundamenta en la indisoluble unidad de la Nación española, patria común e indivisible de todos los españoles, y reconoce y garantiza el derecho a la autonomía de las nacionalidades y regiones que la integran y la solidaridad entre todas ellas”. O que acontece é que, segundo o Tribunal Constitucional, Carles Puigdemont e alguns outros dirigentes independentistas catalães têm atentado contra a unidade da Espanha e, por isso, afrontam a lei constitucional e estão detidos ou têm sobre eles mandados de detenção.
Albert Rivera, o fundador e presidente do Ciudadanos – Partido de la Ciudadania, que é o maior partido da Catalunha, comentou a detenção de Puigdemont e disse que “se acabó la fuga del golpista”. De facto, a forma como tem sido conduzida a luta pela independência da Catalunha tem sido desastrada e, muitas vezes, tem tido contornos de golpe com que o orgulhoso poder centralista de Madrid não pactua.
O problema da Catalunha continua, portanto, bem vivo, embora os catalães comecem a estar cansados desta história. A História, porém, ensina-nos que quando os líderes de uma ideia ou de um movimento político vão para a prisão, as suas teses acabam por se impor no futuro.

O protesto americano contra a violência

Os americanos estão a protestar contra a livre venda de armas automáticas e munições no país e exigem um maior controlo dos antecedentes criminais de quem compra armas de fogo.
De vez em quando somos confrontados com a notícia de mais um adolescente que comprou uma arma, que a levou para a escola e que decidiu imitar uma qualquer cena do mais recente filme de violência que viu na televisão. A permissividade da legislação americana é total e calcula-se que nos últimos vinte anos terão morrido duas centenas de estudantes em consequência de disparos com armas de fogo dentro das escolas americanas e que mais de 187 mil jovens de cerca de 193 escolas primárias e secundárias assistiram a tiroteios dentro das suas escolas. O principal alvo das manifestações é a NRA (National Rifles Association), uma poderosa organização de 5 milhões de membros que promove e incentiva o uso e porte de armas de fogo, mas por via indirecta a manifestação também era dirigida ao Congresso e ao Presidente dos Estados Unidos que, ainda bem recentemente, sugeriu que os professores fossem armados para a escola.
O protesto foi organizado pelos estudantes da escola da Florida onde no passado mês de Fevereiro ocorreu um massacre de que resultaram 17 mortes, tendo alastrado por todo o país e mobilizado milhões de pessoas. A mobilização dos estudantes foi um sucesso e a manifestação terá sido a maior alguma vez realizada nos Estados Unidos pelo controlo de armas de fogo, havendo quem a tivesse comparado às grandiosas manifestações contra a guerra do Vietnam ou em defesa dos Direitos Civis.
Toda a imprensa americana apoiou as manifestações, caso do New York Post, o que pode conduzir a uma mais rápida alteração de uma legislação que parece incentivar o uso de armas como se os americanos ainda estivessem no século XIX e a instalar-se no Far West.