domingo, 28 de fevereiro de 2016

Preservar faróis para guardar memórias

Ao longo de muitos anos os faróis foram a luz humanitária e fraterna que apoiou os navegantes a encontrar abrigo da tormenta e porto seguro. No século XIX, com o incremento do comércio marítimo, a descoberta da navegação a vapor e a utilização da electricidade como fonte luminosa, os faróis tornaram-se elementos indispensáveis na paisagem marítima. Porém, enquanto marca que pode facilmente ser observada do mar, de dia ou de noite, os faróis perderam na actualidade a importância que tiveram no passado, porque os sistemas electrónicos de posicionamento, designadamente o radar e o GPS, os tornaram simples testemunhos de uma outra era. Assim, os faróis já não exibem aquele "olhar humanitário na distância da noite muito escura", de que falou Fernando Pessoa. Porém, embora tenham perdido uma parte da sua utilidade prática, o seu significado simbólico acentuou-se e, um pouco por todo o mundo, há um movimento generalizado, sobretudo nas nações marítimas, no sentido de preservar essas memórias históricas que são os faróis.
Um desses países é a França, onde existe a SNPB – Société pour le Patrimoine des Phares et Balises, que dinamiza os movimentos de preservação dos faróis e a sua adaptação a novas funções, designadamente museus, restaurantes, pequenos hotéis ou centros culturais. No entanto, há inúmeras situações em que a adaptação a novas funções não tem viabilidade económica nem desperta interesse de ninguém, sobretudo quando se situam sobre ilhéus ou rochedos isolados e distantes. No sentido de chamar a atenção das autoridades e de mobilizar a sociedade civil para esta causa, o seu presidente Marc Pointud decidiu iniciar ontem uma estadia solitária de dois meses no Farol de Tévennec, um farol que desde 1875 está situado sobre um ilhéu rochoso e inóspito ao largo da ponta du Van, na Bretanha. A iniciativa de Marc Pointud resultou de imediato e Le Télégramme dedica-lhe hoje a sua primeira página.