sexta-feira, 6 de setembro de 2019

O fim da guerra e o futuro da Síria

Depois de alguns meses em que a imprensa internacional esteve calada e não falou da Síria, apareceu agora a revista The Economist com um artigo a reconhecer a vitória de Bashar al-Assad e do seu regime, embora considere que se tratou de uma vitória oca. De resto, o título do artigo está em linha com a fotografia de Assad sobre um monte de destroços, que é elucidativa quanto aos resultados da guerra, isto é, que Assad ganhou mas que o país ficou destroçado.
Quando no ano de 2011 Assad decidiu resistir à primavera árabe que chegara às suas fronteiras, enfrentou as ameaças e até alguns bombardeamentos ocidentais, tendo pedido ajuda à Rússia e ao Irão. Depois de oito anos de violência, de milhões de refugiados e de meio milhão de mortos, parece que só a província de Idlib ainda resiste. “Contra todas as probabilidades, o monstro venceu”, escreveu o anónimo autor do artigo da revista, deixando no ar a ideia de que era um artigo encomendado.
Começa agora a pensar-se no futuro. A Síria está destruída, enquanto a pobreza, a corrupção e as desigualdades sociais são enormes. O que resta do país corre o risco de colapsar. Aproximam-se tempos ainda mais difíceis para os sírios porque o país não tem dinheiro, nem quadros, nem mão-de-obra para a reconstrução. A Rússia e o Irão são credores de uma enorme dívida da Síria e, certamente, esperam vir a ser pagos com juros. Diz The Economist que “para os sírios, a vitória de Assad foi uma catástrofe”, mas acrescenta que os seus “adversários estão exaustos”.
Outro dos grandes problemas sírios são os refugiados que saíram do país, fugindo destes e daqueles, mas que agora não querem regressar da Jordânia, do Líbano ou da Turquia, onde não são desejados porque consomem recursos, ocupam empregos e geram agitação social.
Lamentavelmente, o artigo não contribui para o desanuviamento nem para a reconciliação nacional, atacando Bashar al-Assad como se ele e os seus aliados fossem os maus desta fita, enquanto os seus adversários, locais ou internacionais, fossem uns bonzinhos e que as suas bombas eram inofensivas, o que não é verdade. E, para mostrar o seu alinhamento ideológico, o artigo diz que “os sírios sofreram terrivelmente. Com a vitória de Assad, a miséria deles continuará”. O artigo não engana, revela muito radicalismo e mostra aquilo a que se chama um mau perder. Só pode ser publicidade paga.

Moçambique em festa com a visita papal

O Papa Francisco está em Moçambique e esta visita papal, que acontece pouco tempo depois da assinatura do acordo de paz e reconciliação entre a Frelimo e a Renamo, coloca o país na primeira página da imprensa mundial. Muita gente vê nesta visita o apoio do Papa a uma paz estável e duradoura, que permita o progresso económico e social dos moçambicanos.
Moçambique é um grande país da costa oriental africana e recebeu o Papa Francisco em festa, tendo exibido a sua diversidade religiosa nas cerimónias de recepção no aeroporto, o que mostra o carácter pacificador desta visita. Acontece que o país já está em campanha eleitoral para as eleições de 15 de Outubro e muitos temem que o partido do governo aproveite esta visita para se promover, mas muitos outros acreditam que a mensagem de reconciliação papal supera tudo o resto. Outros, também lamentam que a visita papal tenha sido limitada à cidade de Maputo e deixasse de lado as províncias de Sofala e da Zambézia que recentemente foram devastadas por ciclones, bem como a província de Cabo Delgado onde se tem verificado uma onda de violência fundamentalista islâmica. Mas, evidentemente, o Papa não pode ir a todo o lado e terá que ser a comunicação social a dar notícia desta visita e da sua importância para a paz, como bem tem feito o diário O País, que se publica em Maputo.
Amanhã, antes de partir para Madagáscar e para a Maurícia, o Papa Francisco celebrará missa no Estádio Nacional do Zimpeto, sendo esse o momento mais grandioso desta sua visita que enche de orgulho os moçambicanos e reforça a ideia de paz e de reconciliação nacional.