Depois de alguns
meses em que a imprensa internacional esteve calada e não falou da Síria,
apareceu agora a revista The Economist com um artigo a
reconhecer a vitória de Bashar al-Assad e do seu regime, embora considere que
se tratou de uma vitória oca. De resto, o título do artigo está em linha com a
fotografia de Assad sobre um monte de destroços, que é elucidativa quanto aos
resultados da guerra, isto é, que Assad ganhou mas que o país ficou destroçado.
Quando no ano de
2011 Assad decidiu resistir à primavera árabe que chegara às suas fronteiras,
enfrentou as ameaças e até alguns bombardeamentos ocidentais, tendo pedido ajuda à
Rússia e ao Irão. Depois de oito anos de violência, de milhões de refugiados e
de meio milhão de mortos, parece que só a província de Idlib ainda resiste.
“Contra todas as probabilidades, o monstro venceu”, escreveu o anónimo autor do
artigo da revista, deixando no ar a ideia de que era um artigo encomendado.
Começa agora a
pensar-se no futuro. A Síria está destruída, enquanto a pobreza, a corrupção e
as desigualdades sociais são enormes. O que resta do país corre o risco de
colapsar. Aproximam-se tempos ainda mais difíceis para os sírios porque o país
não tem dinheiro, nem quadros, nem mão-de-obra para a reconstrução. A Rússia e
o Irão são credores de uma enorme dívida da Síria e, certamente, esperam vir a
ser pagos com juros. Diz The Economist que “para os sírios, a
vitória de Assad foi uma catástrofe”, mas acrescenta que os seus “adversários
estão exaustos”.
Outro dos grandes
problemas sírios são os refugiados que saíram do país, fugindo destes e
daqueles, mas que agora não querem regressar da Jordânia, do Líbano ou da
Turquia, onde não são desejados porque consomem recursos, ocupam empregos e
geram agitação social.
Lamentavelmente,
o artigo não contribui para o desanuviamento nem para a reconciliação nacional,
atacando Bashar al-Assad como se ele e os seus aliados fossem os maus desta
fita, enquanto os seus adversários, locais ou internacionais, fossem uns
bonzinhos e que as suas bombas eram inofensivas, o que não é verdade. E, para
mostrar o seu alinhamento ideológico, o artigo diz que “os sírios sofreram
terrivelmente. Com a vitória de Assad, a miséria deles continuará”. O artigo
não engana, revela muito radicalismo e mostra aquilo a que se chama um mau
perder. Só pode ser publicidade paga.
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