segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os efeitos da crise no comércio local



O Jornal de Notícias destaca hoje em primeira página que todos os dias fecham 6 lojas na cidade do Porto e essa notícia é realmente alarmante, sobretudo porque se refere a uma situação com que nos deparamos quotidianamente nas cidades e nas vilas, nas ruas, nos centros comerciais e um pouco por toda a parte. Em subtítulo o jornal acrescenta que “os comerciantes não aguentam o aumento de impostos, a subida do preço das rendas e a falta de clientes”.
O comércio local é um dos vectores da vida da comunidade e o seu declínio arrasta o declínio da comunidade e dos seus modos de vida. Todos conhecemos essa deprimente realidade recessiva que é mais um sinal do empobrecimento, da desertificação e do desconsolo nacionais, mas também da cegueira de muitos dos nossos dirigentes que parecem indiferentes perante os dramas humanos que estão por trás de cada uma das lojas que fecham. Julgo que não são conhecidas estatísticas actualizadas relativas ao encerramento de pequenas empresas e das chamadas lojas do comércio local, mas é hoje evidente que esse número está a aumentar descontroladamente e que esse facto representa a destruição de uma estrutura económica tradicional e a ruptura com um modelo de actividade comercial que dava emprego a muita gente e, consequentemente, contribuía para a estabilidade e para a coesão social. E se isto está a acontecer de forma tão acelerada é preciso travar este declínio e escolher outro caminho que não este.

Publicidade objectiva e sem sofisticação

Por vezes, nas nossas deambulações pela província, encontramos pontos de venda ou pequenas lojas que resistem à hegemonia das grandes superfícies, à pressão das suas campanhas publicitárias e à diversidade da sua oferta comercial. Esses pequenos espaços são geridos familiarmente, não devem ter contabilidade organizada, raramente se modernizam e vão resistindo às diversas formas de fiscalização económica. Vendem aquilo que produzem, sobrevivem com base na fidelidade da sua clientela e na oferta de produtos genuínos que inspiram confiança. Representam uma tradição cultural do encontro entre a oferta e a procura e, em certo sentido, são uma herança dos tempos da troca directa e da economia não monetária e, em muitos casos, até constituem um quase serviço público.
No entanto, até nesses lugares se vão tomando medidas para manter a clientela ou para intensificar a procura, surgindo uma atitude de informação ao público ou, dito de outra maneira, utiliza-se a publicidade. Trata-se de uma actividade semelhante ao que se passa com a promoção dos dentífricos, dos champôs ou dos detergentes, mas também com os destinos turísticos, as marcas de automóveis ou os serviços de comunicações móveis, embora não tenha semelhante grau de sofisticação. Quando um ponto de venda de batatas, hortaliças, morcelas e farinheiras, informa que “os melhores enchidos caseiros do planeta estão desta porta para dentro”, está a fazer publicidade à sua maneira e de uma forma eventualmente mais objectiva e mais séria do que a sofisticada publicidade dos detergentes que lavam mais branco.