Uma notícia hoje
avançada pelo jornal francês Le Télégramme revela que os
hospitais públicos franceses estão a sofrer “uma hemorragia” de pessoal e que já
estão a contratar médicos tarefeiros ao preço de 3000 euros por 24 horas. Esta
informação é a imagem do descalabro que ameaça o sistema de saúde francês,
provocado pela concorrência entre o público e o privado, mas também nos alerta
para o facto de em Portugal já estarmos ou caminharmos para uma situação
semelhante. Até parece que a saúde está doente.
A crise pandémica
que nos apoquenta desde os finais de 2019 tem mostrado alguma debilidade do
nosso sistema de saúde, daí resultando que haja muita gente a criticar o Serviço
Nacional de Saúde (SNS) que é, seguramente, uma das maiores realizações do nosso
regime democrático. Algumas dessas críticas serão justificadas, sobretudo
quando se referem à falta de pessoal médico e paramédico, que se tem
transferido do SNS para os hospitais privados ou que, não tendo abandonado o
SNS, acumula funções nos dois sistemas de saúde e privilegia aquele que melhor
lhe paga.
O número de
hospitais privados não cessa de aumentar. Essas unidades são geridas por grupos
económicos poderosos e são o exemplo de que a saúde se tornou num próspero
negócio, que cobra sem piedade aos seus utentes, quase sempre protegidos por
acordos de prestação de cuidados de saúde que, em última instância, são pagos
pelo Estado. Esses grupos privados de saúde atraem os profissionais do SNS com
remunerações mais atraentes e, dessa forma, estão objectivamente na primeira
linha de esvaziamento e de ruptura do SNS. Porém, a protecção da saúde não pode
ser um negócio e o SNS tem que ser protegido.
O facto é que com tantos
hospitais públicos e privados em Portugal, não parece que a cobertura sanitária
do país satisfaça as necessidades da população e esse é um dos grandes
problemas que tem que ser rapidamente estudado pelos poderes públicos para
encontrar soluções. Há muita gente, sobretudo na política e no sindicalismo,
que pressiona para que se injecte mais dinheiro no SNS, mas parecem esquecer
que somos um país de recursos escassos e sem possibilidade de um contínuo
endividamento público.
O caminho tem que ser outro, com organização, inteligência e sentido comunitário.