Após 119 dias de seca absoluta, choveu na cidade de Brasília e foi uma festa, uma grande festa, porque foi atravessado o oitavo período mais longo de seca no Distrito Federal. O Correio Braziliense publicou uma interessante fotografia alusiva ao acontecimento e deu-lhe honras de primeira página. A população, na qual se incluem pessoas que nos são próximas, vinha sofrendo com o calor, a exposição solar e a carência de humidade, o que tornava o clima bastante penoso e quase insuportável, mas a forte chuva de ontem em toda a cidade foi uma benção que deu origem a uma euforia geral com grandes celebrações, até porque as previsões apontam para mais precipitação nos próximos dias. Naturalmente, a chuva também causou algumas inundações e perturbações no tráfego, com os habituais acidentes rodoviários que acontecem nestas circunstâncias, para além de ter alterado um pouco da paisagem urbana com as pessoas a fazer uso de guarda-chuvas e de casacos impermeáveis. Não surpreenderá que um dia destes apareça o Jair Bolsonaro a reclamar o mérito da chegada da abençoada chuva a Brasília e a dizer que ela resultou da sua acção. Agora é assim. Um pouco por todo o mundo, entrou-se numa perigosa deriva populista em que as coisas boas que acontecem se devem ao mérito dos líderes, enquanto as coisas más resultam do boicote ou da sabotagem dos outros. Só que, embora muitos alinhem nessa deriva populista, alguns exageram.