sábado, 25 de março de 2023

Incêndios florestais fora de época

Como consequência das elevadas temperaturas que se registam na parte oriental da península Ibérica, um incêndio florestal de enormes proporções deflagrou na província de Teruel da Comunidade Autónoma de Aragão e avançou para a província de Castellón na Comunidade Valenciana. Um autarca local referiu-se-lhe como la tormenta perfecta e, tanto a imprensa aragonesa como a imprensa valenciana, destacaram esta notícia, utilizando as palavras peligro e infierno, o que acontece com o elPeriódico de Aragón
De facto, já estão apurados mais de 4.000 hectares devorados pelas chamas e cerca de 1500 pessoas estão desalojadas, mas o incêndio continua muito activo, apesar de estar a ser combatido por duas dezenas de meios aéreos e várias centenas de bombeiros. Porém, os elevados valores da humidade nesta época têm permitido manter o incêndio dentro de um perímetro que as autoridades consideram aceitável. Segundo já foi apurado, a origem do fogo produziu-se a partir de uma queimada agrícola, que estando vigiada, se descontrolou. 
No entanto, é surpreendente e absolutamente inesperado um incêndio desta dimensão nesta altura do ano, o que vem mostrar uma vez mais os danos provocados pelas alterações climáticas e alertar os responsáveis ibéricos para fenómenos desta natureza.

A França, contestação e violência urbana

A França vive desde há algumas semanas uma enorme tensão social, marcada por mobilização sindical, protestos de rua, barricadas, bloqueios e confrontos com a polícia, por vezes a lembrar o Maio de 1968, enquanto a palavra caos tem sido utilizada para descrever a situação. Paris é, naturalmente, o centro de um protesto nacional que se estende por muitas outras cidades, como Bordéus, Lorient, Lyon e Toulouse, onde se têm registado confrontos entre a polícia e indivíduos mascarados que partem vitrinas e montras, vandalizam mobiliário urbano e incendeiam caixotes do lixo. A edição de Toulouse do jornal La Dépêche du Midi descreve a situação como guerrilha urbana e escreve que a cidade está em estado de choque com os níveis de violência e de destruição que se têm verificado. A situação em Paris também é muito grave e muitas ruas apresentam aspectos de destruição inimagináveis. 
O presidente Emmanuel Macron é cada vez mais contestado e ameaçado. Toda esta enorme agitação resulta de uma situação de envelhecimento demográfico e dos problemas de sustentabilidade que suscita em relação à reforma do sistema de pensões e da dívida pública. A resposta governamental a estes problemas seria sempre através de medidas clássicas mas impopulares, como são os cortes nas pensões, o aumento das contribuições laborais ou o aumento da idade da reforma. Sendo a idade da reforma francesa a mais baixa no quadro social europeu, a resposta adoptada pelo governo foi o aumento gradual da idade mínima da reforma dos 62 para os 64 anos de idade, o que tem provocado uma violenta contestação.
Dizem os analistas que o centrismo de Macron e da sua política reformista não vingou. Tanto a Esquerda como a Direita francesas estão insatisfeitas. A França está dividida entre uma contestação que visa alterar os actuais equilíbrios políticos e aqueles que ainda aceitam e compreendem a política de Macron.