terça-feira, 29 de março de 2022

O cessar-fogo, a paz e o futuro da Ucrânia

Quando se começam a observar alguns sinais de que as partes em confronto no território ucraniano estão a revelar algum cansaço, começando a flexibilizar as suas posições de princípio e a encaminhar-se para um cessar-fogo – pelo menos é isso que parece aos observadores não especialistas, como é o nosso caso – a edição de ontem do jornal inglês The Guardian veio dizer que Putin quer dividir a Ucrânia em duas partes, tal como aconteceu com a Coreia depois da 2ª Guerra Mundial. Ao mostrar a bandeira ucraniana invertida, a imagem da capa dessa edição sugere mesmo a divisão do país, cujo território só é superado territorialmente na Europa pela Federação Russa.
Não se sabe se é uma boa solução, mas o facto é que tem sido seguida em vários conflitos recentes, uns armados (Coreia e Jugoslávia) e outros não armados (Checoslováquia).
No dia 9 de Março escrevemos aqui, na Rua dos Navegantes, um texto intitulado “Sim ao cessar-fogo e à paz na Ucrânia”, em que transcrevemos algumas passagens de um artigo publicado por Henry Kissinger na edição de 5 de Março de 2014 do The Washington Post intitulado “To settle the Ukraine crisis, start at the end”, que está disponível na internet.
Entre outras coisas importantes e oportunas, Kissinger escreveu que “devemos buscar a reconciliação, não a dominação de uma facção” e, também, que “com demasiada frequência, a questão ucraniana é apresentada como um confronto: se a Ucrânia se junta ao Oriente ou ao Ocidente”, acrescentando, “mas para que a Ucrânia sobreviva e prospere, não deve ser o posto avançado de nenhum dos lados contra o outro – deve funcionar como uma ponte entre eles”.
O presidente Joe Biden é uma das principais chaves para resolver o problema ucraniano, pois os líderes europeus deram-lhe demasiadas asas. Porém, ele bem pode ler o texto de Henry Kissinger, que foi o Prémio Nobel da Paz em 1973, ou se preferir, ir falar pessoalmente com ele, pois parece que, aos 98 anos de idade, conserva a lucidez suficiente para o aconselhar a “buscar a reconciliação” e a não atirar gasolina para a fogueira, como fez na Polónia.