sábado, 2 de fevereiro de 2019

Eles estão a brincar com o fogo!

Os Estados Unidos anunciaram ontem a suspensão temporária do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio que tinha sido assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov, para limitar o armamento nuclear dos seus países. Esta decisão de Donald Trump resulta de “constantes violações” russas ao tratado que os americanos já tinham denunciado mas, perante esta medida, o jornal novaiorquino Daily News refere hoje que (eles) estão a brincar com o fogo.
Os americanos deram seis meses aos russos para demonstrarem que cumprem o tratado, mas no caso de se continuarem a verificar violações, que a Rússia nega, abandonarão definitivamente o tratado.  Os americanos asseguram que a Rússia tem desenvolvido o sistema de mísseis Novator 9M729, que viola claramente o tratado. Além disso, referem que há hoje outros países que podem desenvolver as suas capacidades nucleares sem cumprir os limites de um tratado de que não são parte, em particular a China, pelo que os Estados Unidos não podem ficar amarrados a um tratado que só eles cumprem.
Vladimir Putin não perdeu tempo e hoje também anunciou a suspensão do tratado, enquanto a China pediu que os americanos e os russos dialoguem e se entendam.
As relações entre os Estados Unidos e Rússia estão muito tensas desde que Donald Trump chegou à presidência e há cada vez mais pontos de tensão, que vão desde a anexação da Crimeia até às suspeitas de ingerência na eleição presidencial americana, passando pelas questões da Síria e da Venezuela e, agora, pela suspensão do tratado. O facto é que o mundo pode voltar a ficar sem quaisquer limites aos arsenais nucleares do Donald e do Vladimir, que estão a brincar com o fogo, o que pode pôr em causa o equilíbrio estratégico e a segurança mundial.

Em breve o “Gorch Fock” voltará ao mar

A revista Der Spiegel destaca hoje na sua capa uma imagem da barca alemã Gorch Fock, dizendo que depois de ter sido o orgulho da Deutsche Marine é, actualmente, um “símbolo da miséria” do Bundeswehr, isto é, das Forças Armadas da Alemanha. Os repórteres da revista foram encontrá-lo nos estaleiros Bredo Dry Docks no porto de Bremerhaven e trataram de sugerir que o navio parece estar a caminho da sucata, pois está numa doca seca, desmontado e enferrujado, com muitos dos seus componentes distribuídos pelas oficinas das proximidades. Aparentemente, os repórteres não perceberam que o navio está em overhaul, isto é, em trabalhos de grande revisão e manutenção, desconhecendo o que são os trabalhos de manutenção de navios em estaleiro ou, então, têm o propósito de fazer campanha a favor ou contra os orçamentos militares alemães. Em tempo de fake news, já nada nos admira.
Acontece que o Gorch Fock entrou em fabricos em 2016, mas foram detectados  casos de corrupção na administração do estaleiro, o que fez atrasar a intervenção programada. O cronograma dos trabalhos deslizou e os seus custos, inicialmente previstos para 10 milhões de euros, escorregaram e estão agora em 135 milhões de euros. Afinal estas coisas não acontecem só por cá... O Ministério da Defesa hesitou na aceitação desta situação porque, mesmo na Alemanha, as necessidades são ilimitadas mas os recursos são escassos. Pensou-se em abater o Gorch Fock e em construir um novo navio, mas prevaleceu a decisão de ir para diante com os trabalhos em curso, devido ao valor simbólico do navio, que se prevê fique pronto em Abril e que, depois, possa navegar até 2040. O caso despertou-nos a atenção porque o Gorch Foch é irmão gémeo do nosso navio-escola Sagres, mas enquanto o navio português navega desde 1937, o navio alemão foi construído em 1958.