A guerra na Síria
nasceu de um conflito interno que começou em Janeiro de 2011 com grandes
protestos populares nas cidades de Damasco e Alepo, em linha com o que
aconteceu em vários países da região e a que se chamou a Primavera Árabe. Esse
conflito evoluiu rapidamente para uma revolta armada em grande escala que,
habitualmente, se considera ter tido início no dia 15 de Março de 2011. O
governo do presidente Bashar al-Assad não cedeu aos protestos e passou a combater
os seus adversários que ocuparam cidades e pegaram em armas. Hoje o governo
sírio acusa esses adversários de serem terroristas, enquanto as forças da
oposição se dividiram por vários grupos com objectivos diferenciados, que combatem
Bashar el-Assad mas que se combatem entre si. Para além dos seus contornos
políticos iniciais, a guerra passou a ter contornos religiosos e geopolíticos e,
no terreno, há áreas controladas pelo governo sírio, pela chamada oposição
democrática do Conselho Nacional da Síria, pelo Estado Islâmico, pelas forças
curdas do PKK e pela Frente al-Nusra, o braço sírio da Al Qaeda. Nesta complexa
situação, o conflito alastrou ao Iraque, mas também ao Iémen, ao Líbano
e, cada vez mais, à Turquia, para além de estar a pôr à prova a coesão europeia e a sua solidariedade para com os outros povos.
Cada uma das
partes tem aliados muito poderosos e o conflito internacionalizou-se, com
aviões dos mais diferentes países a bombardearem aqui e acolá. As cidades estão destruídas e a população vive em estado de calamidade e foge. As grandes
potências que também são a cabeça dos grandes interesses, têm tido um
comportamento impróprio e desastroso, pois não compreendem a complexidade da realidade
regional e mostram não ter aprendido com o erro que foi o afastamento de Sadam
Hussein e de Muammar Kadaffi. Ao longo de cinco anos pouco mais têm feito do
que tentar exportar os seus modelos políticos, mas também o seu armamento
destruidor para a região.
A política das
grandes potências envergonha a Humanidade, pela passividade com que têm olhado
para o conflito sírio que já causou mais de 300 mil mortos, cerca de cinco milhões
de refugiados, mais de 8 milhões de desalojados e a destruição do país. É uma
infâmia, como bem diz o jornal espanhol El Periódico, essa forma desatenta e desumana como a comunidade internacional e os seus líderes, especialmente Obama, Putin, Cameron e Hollande, têm olhado para a Síria.