Há 112 anos, no
dia 5 de Outubro de 1910, da varanda da Câmara Municipal de Lisboa foi
proclamada a República Portuguesa pela voz de José Relvas, em nome do
Directório do Partido Republicano. A crise monárquica era profunda e já se
agravara desde há alguns anos, mas aprofundara-se depois do assassinato do rei
D. Carlos e do Príncipe Real, que aconteceu no dia 1 de Fevereiro de 1908 na
Praça do Comércio, isto é, estes dois acontecimentos ocorreram em locais
situados a menos de cem metros um do outro.
Apesar das muitas
vicissitudes por que passou durante alguns anos, o ideal republicano conquistou
o povo com o seu hino e a sua bandeira, enquanto as celebrações da implantação
da República se tornaram um feriado e uma festa nacional. Porém, como escreveu
Luís de Camões há mais de quatro séculos, “mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades” e hoje o povo já não celebra a implantação da República, como se
verifica na forma como a comunicação social ignora essa data histórica ou a
evoca timidamente, apenas à espera dos discursos de circunstância. São sinais
dos tempos. Assim aconteceu também com o 1 de Dezembro de 1640 e, qualquer dia,
assim acontecerá com o 25 de Abril de 1974.
A cultura do
esquecimento das datas e dos acontecimentos históricos só enfraquece a identidade
e a unidade nacionais, ao mesmo tempo que tudo é feito para idolatrar o futebol
e os sucessos de uma qualquer selecção nacional. Aqui não há celebrações
populares da República mas, paradoxalmente, a nossa comunicação social
deslumbrou-se em data recente com a Monarquia britânica. O povo não pode ficar
refém deste tipo de escolhas dos gatekeepers da comunicação social. A indiferença com que são tratadas as datas e os
acontecimentos históricos pelas diferentes instâncias dos poderes públicos e pela
comunicação social não é um bom serviço que se presta aos sentimentos populares
da mais antiga nação da Europa, esse “nobre povo, nação valente e imortal”.
Viva o 5 de
Outubro! Viva a República!