A Europa e, de
certo modo, o mundo têm acompanhado com muita apreensão o que está a acontecer
na Ucrânia. Aparentemente, o que se passou em Kiev foi uma espécie de 25 de
Abril, em que uma coligação alargada de interesses derrubou um poder
autocrático e muito corrupto, personalizado na figura do Presidente Viktor
Yanukovich.
Um sentimento de
libertação alastrou por todo o território, revelando que há duas matrizes
culturais, duas concepções políticas, dois tipos de aliança preferencial ou,
simplesmente, duas ucrânias, cada qual com a sua língua – o ucraniano e o russo.
É uma situação muito preocupante, porque há inúmeros factores de
conflitualidade presentes no terreno, embora a situação se enquadre no conceito
de “Europa das Pátrias”, isto é, um continente de múltiplas identidades e
culturas, a fazer lembrar os recentes desmembramentos da Checoslováquia e da
Jugoslávia.
A Ucrânia nasceu há
vinte anos como resultado do desmoronamento da União Soviética e nunca se libertou
da sua relação umbilical com a Rússia. Tem uma superfície superior a 600 mil km2
e é o maior país da Europa, tendo cerca de 45 milhões de habitantes. O seu território
tem fronteiras com 7 países e inclui a Crimeia, uma península com 26 mil km2
que é uma república autónoma da Ucrânia, situada na costa setentrional do
Mar Negro e que alberga a frota russa na cidade portuária de Sebastopol.
A Ucrânia e, em
especial a Crimeia, são estrategicamente importantes para a Rússia, existindo receios de desagregação
do país e de separatismo imediato da Crimeia que, demograficamente, é de
maioria russa. Nesse quadro, Vladimir Putin não perdeu tempo, “passou ao
ataque” e “ocupou” a Crimeia, sem quaisquer hesitações quanto à protecção dos
seus interesses vitais ou das suas fronteiras naturais. O Ocidente reagiu a esta prova de força e a crise
está a subir de tom. A imprensa internacional dá grande relevo aos
acontecimentos e, muitos jornais, reproduzem hoje a imagem de Putin numa visita
a um campo militar russo, enquanto a imprensa portuguesa se dedica a assuntos
menores e parece ignorar o que se passa.
O imbróglio
ucraniano é uma situação muito complexa e de muita incerteza. É preocupante e está
para durar, porque estas mudanças revolucionárias são como as marés, isto é, têm fluxos e refluxos. Tal como se faz no totobola nos jogos de grande dificuldade, é
melhor utilizar uma resposta tripla: 1x2.