Ontem, em directo
pela televisão, assistimos aos graves acontecimentos que ocorreram em Brasília,
sobretudo na Praça dos Três Poderes, o espaço público onde se localizam os três
edifícios monumentais que representam os três poderes da República Federativa do
Brasil: o Palácio do Planalto (poder executivo), o Congresso Nacional (poder
legislativo) e o Supremo Tribunal Federal (poder judicial). Alguns milhares de
fanáticos que continuam a não aceitar os resultados eleitorais e a rejeitar a
democracia brasileira, assaltaram aqueles símbolos do poder democrático e, sob
a inspiração ou sob a direcção do ex-presidente Jair Bolsonaro, que continua
ausente nos Estados Unidos, vandalizaram aqueles edifícios e o património que
guardavam. Toda a imprena brasileira denuncia esta tentativa de golpe
bolsonarista e uma parte dela classifica o que se passou como terrorismo. A
passividade da polícia estadual foi notória, deixando bem clara a cumplicidade
do governo do Distrito Federal com o vandalismo bolsonarista. O presidente Lula
da Silva, que se encontrava na cidade de S. Paulo, decretou rapidamente a
intervenção da polícia federal e, depois de algumas horas em que os “vândalos
fascistas” ocuparam e saquearam as sedes dos três poderes, a normalidade
começou a ser reposta. Haverá cerca de quatro centenas de detidos e o
governador do Distrito Federal foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal. O
protesto bolsonarista que visava a criação de um estado geral de desordem e era
uma evidente tentativa para estimular a intervenção das Forças Armadas, não
resultou. Naturalmente, a instabilidade vai continuar a perturbar a sociedade
brasileira, mas estes acontecimentos vieram mostrar que o bolsonarismo e as
suas práticas “não passarão”, como salientava a manchete do jornal A Tarde de Salvador. O repúdio pelo
vandalismo bolsonarista foi unânime na imprensa internacional que o destacou
nas suas primeiras páginas, como aconteceu com o jornal espanhol El
País.