domingo, 31 de dezembro de 2023

Adeus a 2023! O que nos reserva 2024?

Nas próximas horas o calendário deixa para trás o ano de 2023 e inicia o ano de 2024 que, dizem os entendidos e aqueles que se querem fazer passar por entendidos, vai ser um ano difícil para Portugal e para o mundo. 
O diário Le journal de Montréal foi um dos muitos jornais mundiais que dedica a sua edição de hoje à passagem de ano e pergunta o que nos reserva o novo ano de 2024. 
Quando se inicia um novo ano é costume desejar-se saúde, paz e prosperidade aos que nos rodeiam, mas todas essas circunstâncias dependem de diferentes envolventes políticas, económicas e ambientais internas e externas, relativamente às quais também aqui expresso os meus desejos.
1º - Que se resolvam os conflitos da Ucrânia e da Palestina e que o papel das Nações Unidas se reforce, o que pressupõe que haja dirigentes inteligentes, corajosos, prudentes e apaziguadores.
2º - Que as eleições para o Parlamento Europeu (em Junho) e as eleições presidenciais americanas (em Novembro) conduzam a resultados que reforcem a Democracia e a paz no mundo.
3º - Que a União Europeia aposte cada vez mais no progresso e no bem-estar dos seus cidadãos, assumindo-se como um factor de estabilidade e de paz em relação aos conflitos activos junto das suas fronteiras.
4º - Que as grandes potências, designadamente os Estados Unidos, a União Europeia, a China e a Índia adoptem rapidamente políticas que combatam as alterações climáticas e defendam o nosso planeta. 
5º - Que os diferentes actos eleitorais a realizar em Portugal no ano de 2004 decorram com normalidade e com o esclarecimento dos eleitores, para que os eleitos garantam a paz e o progresso dos portugueses.
6º - Que os dirigentes portugueses sejam consequentes no cumprimento do artigo 7º da CRP que afirma que, nas relações internacionais, Portugal se rege no respeito pelos direitos do homem e da solução pacífica dos conflitos internacionais.
7º - Que as comemorações do 25 de Abril de 1974 sejam uma grande festa nacional, que decorram com serenidade e que reforcem os sentimentos democráticos dos portugueses.
8º - Que em relação às grandes áreas da governação e aos grandes projectos nacionais haja acordos de regime que assegurem, de forma duradoura e sustentada, o bem-estar e o progresso dos portugueses. 
§ único - Que todos os meus amigos tenham saúde, alegria, ânimo e prosperidade.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A pobreza extrema e o sonho americano

A edição de ontem do The Wall Street Journal destaca, com uma fotografia na sua primeira página, a longa e pacífica marcha que está a atravessar o México em direcção à fronteira sul dos Estados Unidos.
A marcha começou a formar-se na cidade mexicana de Tapachula no passado domingo, dia 24 de Dezembro, sendo encabeçada por uma faixa na qual está escrito “Éxodo de la Pobreza”, pois os responsáveis do grupo declaram que as pessoas apenas estão a fugir da desumana pobreza em que vivem e pretendem chegar aos Estados Unidos, ou ao sonho americano, para aí trabalharem honestamente. Inicialmente seriam cerca de sete mil pessoas, oriundas sobretudo do México, Venezuela e Cuba, mas a marcha integra pessoas de todas as idades e de 24 nacionalidades, provenientes da América Central, da América do Sul e das Caraíbas.
A pobreza é a negação aos seres humanos de qualquer poder económico, social e político, sendo uma das maiores catástrofes que afecta a humanidade. Por isso, foi proclamada como uma violação dos direitos humanos, pois priva os seres humanos de recursos e da satisfação das suas necessidades mais básicas nas esferas da saúde, educação, habitação, acesso à água e saneamento.
Daí que, tal como acontece na Europa, também os Estados Unidos exista uma “fuga da pobreza” e um intenso movimento migratório de sul para norte, em direcção à cidade californiana de San Diego e às cidades texanas de El Paso e Eagle Pass. Segundo a BBC, “desde o início do ano, mais de dois milhões de migrantes foram detidos na fronteira entre o México e os Estados Unidos, um número recorde”. Em Setembro deste ano mais de 200 mil migrantes foram detidos nessa fronteira, mas em Novembro terão sido 242 mil. É neste mundo que não cala Netanyahu, nem faz calar as armas na Ucrânia, que há mais de mil milhões de seres humanos a viver na pobreza…

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

As perdas da Marinha russa no mar Negro

A guerra na Ucrânia tem continuado a mostrar que está a ser uma tragédia para a população ucraniana e para as tropas de ambos os lados, enquanto os cofres de muita gente alinhada com Zelensky parece estarem a ficar vazios. Os que podiam ter procurado a paz através do reforço dos acordos de Minsk de 2014 e 2015 e de ter procurado pôr fim à guerra civil entre os nacionalistas ucranianos e os rebeldes pró-russos no Leste da Ucrânia, preferiram fazer a guerra e alimentar as indústrias do armamento. E tem sido assim, sobretudo a partir do dia em que o conflito se agravou com a tentativa russa de ocupar Kiev.
Apesar de todos os dias termos inúmeros comentadores televisivos que não conseguem ser independentes e que só nos falam de guerra, como se a paz fosse uma impossibilidade, o facto é que o cidadão comum não sabe o que se passa no terreno, nem se há esforços para conseguir um cessar-fogo e para negociar uma solução para o conflito. Porém, de vez em quando, chegam-nos notícias veiculadas pela imprensa internacional que mostram a realidade da guerra, nomeadamente contra a Marinha russa estacionada no mar Negro, que em Março de 2022 perdeu o navio-transporte Saratov no porto de Berdiansk e em Abril de 2022 perdeu o seu navio-chefe, o moderno cruzador Moskva.
Agora foi anunciado, nomeadamente pelo jornal basco El Correo, que um ataque ucraniano com mísseis atingiu o navio-transporte Novocherkassk, atracado no porto de Feodosia, na costa oriental da Crimeia, que segundo os ucranianos foi afundado, mas que os russos dizem ter sido apenas atingido. É a guerra da propaganda, mas neste caso significa que a guerra está muito activa e que os mísseis ucranianos estão a fazer muitos estragos à Marinha russa.

R.I.P. Jacques Delors

Jacques Delors, um cidadão francês e militante do Partido Socialista que foi presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995, faleceu ontem em Paris com 98 anos de idade e parece haver unanimidade quanto aos seus excepcionais méritos, pois nenhum dos seus sucessores – Jacques Santer, Romano Prodi, Durão Barroso, Jean-Claude Juncker e Ursula von der Leyen – alguma vez se mostraram à altura da “alma europeia de Delors” e da sua verdadeira dimensão europeista. Foi durante a sua presidência e sob a sua inspiração, que os governadores dos bancos centrais apresentaram o chamado Relatório Delors sobre os passos a dar para a realização da União Económica e Monetária, daí nascendo o novo Tratado da União Europeia ou Tratado de Maastricht que concretizou a nova arquitectura europeia e que, a partir de 1 de Janeiro de 1999, lançou o euro como a nova moeda única europeia.
Portugal tinha sido admitido na Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986 e Jacques Delors afirmou-se como um bom “amigo de Portugal”, que lhe retribuiu com condecorações e doutoramentos honoris causa pelo seu valor humano, mas também como expressões de gratidão pelos generosos fundos estruturais concedidos para a modernização da economia portuguesa.
O tempo de Jacques Delors foi, provavelmente, o ponto mais alto da materialização do ideal europeu desde o Tratado de Roma e é legítimo falar-se de um tempo pós-Delors, em que a Europa tem perdido progressivamente lideranças, protagonismos e ideais.
Homens idóneos e de espírito europeu como Jacques Delors fazem-nos falta nos tempos conturbados que atravessamos na Europa.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

O novo confronto Trump-Biden em 2024

A menos de um ano das eleições presidenciais americanas e com as eleições primárias quase a começar, parece confirmar-se um novo encontro entre o actual e o anterior presidente dos Estados Unidos, ou entre o democrata Joe Biden de 81 anos de idade e o republicano Donald Trump de 77 anos de idade. O assunto interessa tanto aos americanos como ao resto do mundo e, por isso, a imprensa europeia já lhe dedica a sua atenção, como se observa na edição de hoje do jornal francês La Dépèche du Midi, que se publica em Toulouse e que anuncia com grande destaque o regresso do confronto entre Trump e Biden.
Segundo informa o jornal, Donald Trump está confrontado com uma série de processos judiciais, mas verifica-se que cada novo processo parece fortalecê-lo ”entre a sua base eleitoral fanática” e assegurar-lhe fundos adicionais para a sua campanha eleitoral. Mesmo os seus concorrentes republicanos Ron DeSantis e Nikki Haley, têm poupado os ataques contra Trump com receio de ofender a sua base de apoio, que ainda está muito mobilizada e, acima de tudo, ávida por vingança pela repressão da sua rebelião de 6 de Janeiro de 2021.
Do outro lado, os bons resultados económicos da Administração Biden não parecem trazer-lhe o reconhecimento dos americanos para um segundo mandato. As sondagens são-lhe desfavoráveis, sobretudo entre o eleitorado jovem, decepcionado com a posição pró-israelita no actual conflito entre Israel e o Hamas. Os bons resultados económicos de Joe Biden não têm sido mobilizadores e apenas 2% do eleitorado considera “excelente” a sua política económica (Bidenomics), havendo 52% que a considera “má”, enquanto 59% do eleitorado considera que Trump teria um melhor desempenho económico. Finalmente, todos criticam a idade dos candidatos que levará a que o futuro presidente dos Estados Unidos tenha uma idade bem avançada.
Como cantava Doris Day nos anos 1955, que sera sera (whatever will be)...

O apelo à paz no discurso de Carlos III

Se eu fosse nascido no dia 5 de Outubro de 1910 e já tivesse idade para isso, eu estaria ao lado daqueles que instauraram a República em Portugal. Eu sou um republicano convicto pois entendo que o chefe do Estado deva ser escolhido pelos cidadãos por períodos limitados, além de não me agradar a hierarquia social nem o sistema de privilégio que vive à volta das realezas, muitas vezes sem qualquer mérito. Porém, nada me move contra os vários soberanos que reinam na Europa, como Filipe VI de Espanha, Carlos III do Reino Unido, Filipe I da Bélgica, Guilherme Alexandre dos Países Baixos, Margarida II da Dinamarca, Carlos Gustavo da Suécia ou Harald V da Noruega, acontecendo que muitas vezes eles nos surpreendem com mais coragem, mais princípios e mais bom senso do que muitos daqueles que são escolhidos pelo povo para os dirigir.
O exemplo de Carlos III é elucidativo. Em Setembro de 2022 ascendeu ao trono por morte da sua mãe a rainha Isabel II, quando tinha 73 anos de idade, havendo muitas dúvidas sobre a sua idoneidade para ser a cabeça do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e de mais 14 Estados soberanos e independentes chamados Reinos da Comunidade de Nações (Commonwealth), onde se incluem a Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia, entre outros.
A subida ao trono de Carlos III não me despertou nenhum interesse especial, até que li o discurso de Natal que ontem fez aos seus súbditos. Nesse discurso, apelou à ”protecção do planeta” porque é “a casa que todos partilhamos” e, embora não tendo abordado directamente os conflitos na Ucrânia ou na Faixa de Gaza, falou nos “conflitos cada vez mais trágicos” que se travam no mundo. Disse que “não façamos aos outros o que não queremos que nos façam a nós” e, vários jornais como o Scottish Daily Mail, destacaram “o apelo pela paz no discurso de Natal do Rei”. Quando muitos dirigentes europeus estão calados, indiferentes ou alinhados com a guerra, as suas tragédias e os seus negócios de armamento, as palavras de Carlos III alinham-se com a esperança e com a paz. Até que enfim que alguém fala em paz...

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Merry Christmas ou, antes, um Feliz Natal

Hoje é dia de Natal e, como escreveu o poeta António Gedeão, é o dia de ser bom e é o dia de pensar nos outros. Hoje é dia de Natal e, como também escreveu o poeta António Gedeão, é dia de Amor, de Paz, de Felicidade, de Sonhos e de Venturas.
Para a Cristandade é um dia de grande festa religiosa, com os seus múltiplos símbolos como o presépio, a “missa do galo”, a ceia de Natal, as músicas natalícia e os cumprimentos de “Boas Festas”, mas a sociedade de consumo cristã ou não cristã, adoptou o Natal como a grande festa do consumo, da troca de presentes, das grandes festas profanas, da árvore da Natal e das iluminações públicas e, sobretudo, dessa invenção comercial e sem enquadramento histórico que é o Pai Natal, viajando desde a Lapónia num trenó rebocado por uma rena, fazendo a distribuição de presentes às crianças.
O impacto comercial do Natal é cada vez maior e a imprensa, que faz a intermediação entre os produtos e os consumidores, designadamente através da Publicidade e das suas sugestivas técnicas, tem um papel importante nesta onda consumista natalícia, através de mensagens, umas directas e outras subliminares. Assim devem ser interpretadas algumas manchetes apresentadas por jornais, sobretudo americanos, como acontece na edição de hoje do The Standard-Times, que se publica na cidade de New Bedford, no estado de Massachusetts, que ao desejar um Feliz Natal aos seus leitores, está subliminarmente a mobilizá-los para a ideia do consumo e não para os valores intrínsecos do Natal.Apesar disso, o Natal ainda é um tempo de reflexão, em que se pensa na paz no mundo e na solidariedade entre os homens e as nações, para que não haja sofrimento, nem fome, nem destruição.
Naturalmente, são muitos os que desejam o fim das guerras na Ucrânia e em Gaza, que tanto sofrimento e tanta dor causam, perante a indiferença ou a cumplicidade de tantos dirigentes políticos mundiais.
Finalmente, no Natal cumprimentam-se os amigos e deseja-se que tenham saúde e sucesso nas suas vidas. É essa a mensagem que aqui fica para os leitores deste texto.

domingo, 24 de dezembro de 2023

A trágica história de uma terra prometida

A prestigiada revista francesa Le Nouvel Observateur,  também conhecida como L’Obs, dedicou esta semana um número especial ao conflito entre Israel e a Palestina, ou “à trágica história de uma terra prometida”.
Esta edição mostra como o conflito do Médio Oriente e a questão de Gaza têm uma enorme importância no panorama político internacional e analisa o historial daquele conflito histórico, que foi reactivado com os acontecimentos do passado dia 7 de Outubro. O que de violento então se passou sob o comando do Hamas é bem conhecido, como também é conhecida a reacção israelita que tem sido criticada pela comunidade internacional por ser desproporcionada, violenta, desumana e violadora de todas as regras humanitárias. Através da televisão vamos vendo como o património habitacional de Gaza está destruído e como os seus dois milhões de habitantes estão a ser objecto de verdadeiro genocídio. Voltou-se a um contexto de barbárie como ninguém pensava que pudesse acontecer.
A resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que foi ontem aprovada em Nova Iorque, apela a medidas urgentes para permitir de imediato um acesso humanitário seguro, sem entraves e alargado, à Faixa de Gaza e pede para serem criadas “as condições para uma cessação sustentável das hostilidades”. Foi aprovada por treze países mas teve a abstenção dos Estados Unidos e da Rússia. É pouco, é mesmo muito pouco. É preciso parar com a brutalidade israelita porque o que está a ser feito não é "o exercício do direito de defesa".
Como é possível que o mundo se limite a votar nas Nações Unidas e ninguém trave esta brutal e desenfreada vingança israelita, visando o extermínio do povo palestiniano. No caso da União Europeia é absolutamente condenável a indiferença com que assiste a esta brutalidade e a esta crise humanitária, ou até o seu alinhamento oficioso ao lado de Israel. E por aqui, como é curioso e chocante o discurso pró-israelita de tantos dos nossos comentadores televisivos. 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A estátua de Cabrilho “ilumina” San Diego

A cidade de San Diego fica situada na Califórnia, próximo da fronteira dos Estados Unidos com o México e é banhada pela margem oriental do oceano Pacífico. É a oitava cidade mais populosa dos Estados Unidos e na orla da sua importante baía estão localizadas algumas bases da Marinha, do Corpo de Fuzileiros Navais e da Guarda Costeira, que são os pilares da economia da região. Quem viveu ou conhece a cidade costuma dizer que é um dos melhores sítios do mundo para viver, devido ao seu clima mediterrânico.
Ontem o tempo esteve sombrio em San Diego e o jornal The San Diego Union-Tribune noticiou que há uma tempestade que se aproxima trazendo inundações e ventos, ilustrando essa notícia com uma fotografia do Monumento Nacional a Cabrilho em Point Loma, a península-parque que se localiza do outro lado da baía de San Diego, virada para o oceano.
João Rodrigues Cabrilho foi primeiro europeu que visitou a grande baía hoje chamada de San Diego, navegando na nau San Salvador de Navidad com a bandeira de Castela e logo em 1542 reclamou aquele território para o império espanhol de Carlos V. Porém, ainda se discute se Cabrilho era português ou se era castelhano, embora o grande cronista espanhol Antonio de Herrera y Tordesilhas e muitos estudos afirmem que era português e originário de Montalegre.
A colonização europeia permanente de San Diego e de toda a região da California só começou em 1769 e só em 1850 a Califórnia foi integrada nos Estados Unidos. Em 1939 o governo português doou uma estátua de Cabrilho ao Estado da Califórnia, mas não resistiu “às severas intempéries”, pelo que veio a ser substituída em 1988 por uma réplica com 4, 20 metros de altura. 
É um monumento que homenageia os navegadores portugueses. À volta desta estátua e do seu significado histórico realiza-se todos os anos o Festival Cabrilho, que mobiliza e entusiasma a comunidade portuguesa de San Diego.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Um vulcão entrou em erupção na Islândia

Um vulcão entrou em erupção na península de Reykjanes, no sudoeste da Islândia, depois de algumas semanas de crise sísmica e da retirada de cerca de quatro mil habitantes da vila piscatória de Grindavik. Um vulcão activo na Islândia é um fenómeno vulgar, mas a edição de hoje do jornal Morgunbladid, que se publica em Reiquiavique, destaca a frase “STÆRSTA ELDGOSIД que, traduzida com a ajuda do Google, significa “o maior vulcão”.
A Islândia é um país que se tornou independente da Dinamarca em 1918 e que tem uma população total de cerca de 360 mil habitantes. É uma ilha vulcânica um pouco maior do que Portugal, que fica situada no Atlântico Norte nas proximidades do Círculo Polar Ártico, onde existem cerca de três dezenas de sistemas vulcânicos. 
A erupção que está activa é visível da capital do país, que fica a pouco mais de quarenta quilómetros do vulcão Reykjanes e, mais do que um perigo, é uma atracção turística. A população reage com naturalidade a esta erupção que os islandeses aproveitam para fotografar, não havendo alterações significativas no seu quotidiano, enquanto as televisões vão mostrando belas imagens das erupções. Até ao momento também não há quaisquer perturbações no movimento aeroportuário, mas todos recordam a erupção de 2010 do vulcão Eyjafjallajokull, que causou um verdadeiro pesadelo no espaço aéreo europeu, ao provocar o cancelamento de cerca de novecentos mil voos!
Porém, as autoridades “esperam para ver” a evolução nos próximos dias do vulcão Reykjanes.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Gaza, Israel e a imprensa americana

A situação que se vive na Faixa de Gaza é catastrófica e atentatória da dignidade humana, segundo todos os relatos e todas as imagens que nos chegam. Já não se trata de exercer o legítimo direito de defesa perante a crueldade do ataque do Hamas de 7 de Outubro, porque o que as forças israelitas estão a fazer sob as ordens de Benjamin Netanyahu é um massacre, que visa o extermínio da população palestiniana. Havia dúvidas quanto a essas intenções, mas a brutalidade da vingança israelita acabou com elas. Depois da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas em que a comunidade internacional pediu um cessar-fogo imediato em Gaza, foi Joe Biden que veio afirmar publicamente as suas divergências com o governo israelita e afirmar que Israel começou a perder apoios devido aos seus bombardeamentos indiscriminados contra Gaza. Mais recentemente, foram a França, o Reino Unido e a Alemanha a pedir um cessar-fogo sustentável e a pedir que se trabalhe por uma paz duradoura entre Israel e a Palestina.
O problema agravou-se nos últimos dias com duas notícias que chocaram o mundo. A primeira foi a divulgação pelos serviços secretos americanos que das 29.000 bombas já lançadas sobre Gaza, cerca de 40-45% foram bombas não teleguiadas, ou bombas “burras”, que têm menor precisão e produzem efeitos de destruição e morte colaterais. A segunda, foi a morte de três reféns que foram abatidos por soldados israelitas, apesar de estarem de tronco nu, de acenarem uma bandeira branca e de um deles ter pedido socorro em hebraico.
A imprensa americana começa a ter um novo olhar sobre o conflito de Gaza. Apesar de, tradicionalmente, apoiar Israel, já começou a criticar a brutalidade da actuação das forças de defesa israelita. Vários jornais, como The Citizen, que se publica em Auburn, uma cidade do estado de Nova Iorque, situada nas proximidades do Lago Ontário e a cerca de 450 da cidade de Nova Iorque, na sua última edição critica Israel e destaca que está “comprometido como sempre” com a guerra.

domingo, 17 de dezembro de 2023

O bom exemplo da Venezuela e da Guiana

O jornal ÚltimasNotícias, que se publica em Caracas, destacou na sua edição de ontem o encontro entre os presidentes Nicolas Maduro da Venezuela e Mohamed Irfaan Ali da República Cooperativa da Guiana, que se realizou no Aeroporto de Argyle em São Vicente e Granadinas, no sul das Caraíbas. O anfitrião deste encontro foi o primeiro-ministro Ralph Gonsalves, “neto de emigrantes de Câmara de Lobos que emigraram para as Caraíbas em 1845” e nele participaram Celso Amorim, enviado especial do presidente Lula da Silva, bem como outros primeiros-ministros das Caraíbas.
Segundo os relatos da imprensa avançou-se bastante na questáo do Essequibo que, nos últimos tempos, se agudizara e ameaçava transformar-se num conflito militar, tendo sido assinada a Declaração de Argyle com onze pontos que apontam para um arrefecimento do conflito. As partes comprometeram-se a não fazer ameaças recíprocas, nem a utilizar a força em quaisquer circunstâncias, nem a agravar os seus desacordos e “acordaram que qualquer controvérsia entre si se resolverá em conformidade com o direito internacional, incluido o Acordo de Genebra de 17 de Fevereiro de 1966”.
Significa que a República Cooperativa da Guiana reconhece o Acordo de Genebra, isto é, o acordo assinado “para resolver a controvérsia entre a Venezuela e o Reino Unido sobre a fronteira entre a Venezuela e a Guyana Britânica”, que criou uma Comissão Mista para “buscar soluciones satisfactorias para el arreglo práctico de la controversia entre Venezuela y el Reino Unido”, que até agora não foi resolvido.
Este diálogo e este acordo de Argyle entre a Venezuela e a Guiana, que aqui saudamos, é um passo importante para a resolução pacífica e negociada deste conflito nascido do “imperialismo britânico do século XIX”. Porém, também aqui lamentamos que não sirva de exemplo para a resolução de outros conflitos, por exemplo na Ucrânia e no Médio Oriente, onde aqueles que têm influência para encontrar soluções não falam de paz, mas tão só de guerras, de armas e de mais armas.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Os coleccionismos e a força da Messimania

O coleccionismo é uma actividade desenvolvida por milhões de pessoas em todo o mundo, que consiste na identificação, guarda, estudo, organização, classificação e exposição dos mais diferentes objectos, havendo coleccionadores de tudo, desde moedas, selos e postais, até isqueiros, sapatos, garrafas, primeiras edições de livros, miniaturas e, num outro patamar, as obras de arte, os automóveis clássicos ou as velhas máquinas voadoras.
Há diferentes tipos de coleccionismo, alguns deles bem imaginativos, havendo alguns que até recebem nomes específicos como a bibliofilia, a numismática ou a filatelia.
O coleccionador é sempre uma pessoa apaixonada pelos objectos que colecciona e, por isso, procura sempre a valorização das suas colecções, o que pode fazer com a aquisição de novos objectos em casas especializadas, em leilões ou em feiras, o que significa que o coleccionismo potencia vários tipos de negócios. Por isso há coleccionadores que, provavelmente, são meros negociantes especuladores, como acontece por exemplo com os mercados e os leilões de obras de arte, de automóveis antigos e, também, de coleccionáveis desportivos.
O futebolista Lionel Messi foi para os Estados Unidos para jogar no Inter Miami e a Messimania, nascida e criada em Barcelona, acentuou-se. Hoje, o jornal Clarín que se publica em Buenos Aires, destaca em primeira página que num leilão da casa Sotheby’s, em Nova Iorque, um anónimo adquiriu por 7,8 milhões de dólares, um lote de seis camisolas da selecção argentina “com o número 10 e o nome Messi nas costas”, que foram usadas no Catar por Lionel Messi na primeira parte de seis jogos do Campeonato do Mundo de 2022. A Sotheby's planeara atingir mais de dez milhões de dólares e ultrapassar o valor de 10,1 milhões de dólares por que foi vendida uma camisola usada pelo basquetebolista Michael Jordan nas finais da NBA de 1998.
O famoso Messi "perdeu" para Michael Jordan, como também "perdera" várias vezes com Cristiano Ronaldo.

José Tolentino Mendonça é Prémio Pessoa

José Tolentino Mendonça, cardeal da Igreja Católica nascido na vila madeirense do Machico, que actualmente é o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação na Cúria Romana, é um reconhecido teólogo, professor, escritor e poeta português. Hoje completa 58 anos de idade e ontem foi-lhe atribuido o Prémio Pessoa.
Foi a 37ª personalidade da cultura portuguesa a ser distinguida com aquele prestigiado prémio que foi criado em 1987 por iniciativa do semanário Expresso, com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, para destacar, ainda em vida, uma personalidade da sociedade portuguesa cujo percurso e obra se tenham evidenciado ao longo do ano, designadamente nos aspectos culturais ou científicos.
É, porventura, o prémio mais importante que existe em Portugal, um país em que são muito poucos “aqueles que por obras valerosas”, “se vão da lei da morte libertando”, como escreveu Camões em 1572. Porém, o cardeal José Tolentino Mendonça é um dos nossos compatriotas cujas “obras valerosas”, associadas à sua humildade e à sua qualidade intelectual, lhe dão um lugar de destaque no panorama da cultura portuguesa.
Não é este o espaço para elogiar o premiado e a sua obra poética e ensaística, até porque a imprensa de hoje destaca o percurso biográfico deste homem, “desde o Machico a Roma”, mas é um lugar em que se manifesta o regozijo pela escolha feita e se aplaude o premiado.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Os jornais, a opinião pública e a verdade

Com grande destaque, o jornal Diário de Notícias divulgou hoje os resultados de uma sondagem de opinião feita pela Aximage para a Global Media Group, realizada nos dias 11 e 12 de Dezembro, com base numa amostra de 515 entrevistas. Dos resultados da sondagem, o jornal escolheu para manchete a frase “menos de metade dos portugueses acha que Marcelo deve ficar em Belém”.
A sondagem realizou-se a propósito do “caso das gémeas luso-brasileiras”, que tem sido exaustivamente tratado pela comunicação social devido aos seus ingredientes de escândalo e de sensacionalismo, embora se situe dentro do círculo cultural português que é a cunha, essa instituição a que poucos portugueses resistem. O facto é que, com este caso, muitos jornais e muitos jornalistas passaram rapidamente do jornalismo da bajulação, para uma espécie de jornalismo de caça ao escândalo, disfarçado de jornalismo de investigação. E aquele que era o mais popular dos políticos portugueses e o presidente dos afectos, das selfies e dos sorrisos, rapidamente passou a um estado em que só 48% desses mesmos portugueses acha que tem condições para levar o seu mandato até ao fim. É demasiado ridículo para ser verdade!
A questão de saber se houve um tratamento de favor às gémeas luso-brasileiras por parte do Presidente da República, das autoridades portuguesas ou do SNS, ainda está por esclarecer, mas a comunicação social já se antecipou, tendo decidido que o visado era Marcelo Rebelo de Sousa. Quem é que vai tirar isso da cabeça dos portugueses depois de tanta repetição dessa notícia, que não se sabe se é verdadeira ou falsa? Tem sido assim com muitos outros casos em que os jornais, os jornalistas e aqueles que os influenciam, destroem a dignidade e o bom nome das pessoas, apenas por suposições ou indícios malévolos.
Curiosamente, a sondagem também inquiriu os entrevistados em relação à cobertura que a comunicação social tem dado ao caso, tendo revelado que 19% dos inquiridos manifestaram uma opinião muito boa e 36% uma opinião boa. Fico muito surpreendido porque, todos os dias "vejo, ouço e leio" as notícias publicadas e não imaginava que 55% dos portugueses achassem boa ou muito boa a cobertura deste caso. Eu pertenço aos 45% de portugueses que acham que a cobertura deste caso pela comunicação social, não é boa nem muito boa.

COP28: será o fim das energias fósseis?

Os trabalhos da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023, ou COP28, que se realizaram no Dubai, chegaram ao fim depois de duas semanas de intensas negociações e, pela primeira vez na história destas conferências organizadas pelas Nações Unidas, foi alcançado um acordo que prevê o fim da era do petróleo ou, pelo menos, a redução do seu consumo. Porém, embora o apelo à eliminação progressiva dos combustíveis sólidos tivesse sido uma grande vitória da COP28, tem muitos aspectos por esclarecer, sobretudo porque não impõe prazos, nem limites à produção de petróleo, gás natural e carvão.
Este acordo não foi fácil e a COP28 esteve em riscos de falhar, mas a maior parte dos duzentos países e organizações presentes aplaudiu o resultado alcançado, que também satisfez António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, que declarou: “esperemos que o acordo não chegue demasiado tarde”.
É sabido que o petróleo, o gás natural e o carvão pesam cerca de 80% no consumo energético mundial e que essas energias fósseis são as principais responsáveis pelas alterações climáticas que afectam o nosso planeta, pelo que o acordo alcançado no Dubai significa uma maior sensibilização à escala global e é realmente histórico. Porém, muitos recordam o acordo alcançado há dois anos em Glasgow para a redução do consumo de carvão que, de facto, tem continuado a aumentar, significando que as boas intenções das cimeiras têm tido poucos resultados.
A imprensa acompanhou os trabalhos da COP28, mas o jornal parisiense La Croix perguntava na sua edição de hoje se é o fim das energias fósseis.

O mundo apela ao cessar-fogo em Gaza

O resultado da votação na ONU (UN News)
A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou no dia 12 de Dezembro uma resolução não vinculativa mas influente, que exige um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, depois dessa mesma exigência ter sido rejeitada pelo Conselho de Segurança alguns dias antes, devido ao veto dos Estados Unidos. O projecto de resolução foi apresentado pelo Egipto com o apoio de oito dezenas de estados, incluindo Portugal, tendo sido apoiado por 153 votos a favor, 10 votos contra e 23 abstenções – um resultado considerado “esmagador”.
O texto expressa grande preocupação pelo sofrimento dos civis palestinianos e pela catastrófica situação que se vive em Gaza, onde se estima já terem sido mortas 18 mil pessoas desde o dia 7 de Outubro, devido aos ataques do Hamas e às acções de retaliação de Israel. Além disso, o texto pede o cumprimento das leis internacionais que protegem civis e exige a libertação imediata e incondicional de todos os reféns em poder do Hamas.
A votação reflecte o crescente isolamento internacional dos Estados Unidos e de Israel, que se recusam a apoiar um cessar-fogo em Gaza, persistindo na sua intenção de neutralizar o Hamas, mesmo que isso represente o genocídio do povo palestiniano. Os Estados Unidos, que são os maiores aliados e os principais fornecedores de armamento a Israel, são cada vez mais vistos como cúmplices dos crimes cometidos pela retaliação israelita, mas são a única entidade capaz de persuador o extremismo de Benjamin Netanyahu a aceitar um cessar-fogo. Daí que Joe Biden, já tenha alertado para o facto de Israel estar a perder apoio internacional devido ao “bombardeamento indiscriminado” de Gaza.
Curiosamente, ou não, a imprensa nacional ou internacional não destacou esta esmagadora votação da Assembleia Geral das Nações Unidas nas suas primeiras páginas.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Goa, o mandó e a herança cultural lusitana

Está a decorrer na cidade de Panjim, a capital do estado indiano de Goa, o 56th All Goa State Level Mando Festival, no qual participam 29 grupos e que, durante dois dias, desperta um enorme interesse dos goeses, sobretudo daqueles que ainda estão ligados à cultura portuguesa. O suplemento Café do jornal Heraldo destacou na sua edição de ontem "o jovem e entusiástico" talento musical que este festival promove. 
Goa é uma terra de música e de músicos, onde se fundem harmonicamente as tradições musicais da Índia e do ocidente. O mandó é uma forma musical que nasceu e se desenvolveu em Goa durante o século XIX, quando o território fazia parte do Estado Português da Índia, tendo incorporado elementos musicais indianos e ocidentais. É cantado em concanim, a língua nacional de Goa, embora inclua muitas palavras de origem portuguesa. É uma expressão da música tradicional goesa e é muito popular entre a comunidade católica de todo o território, em especial na província de Salcete, no sul de Goa, sobretudo em Curtorim, Majorda, Raia e Margão, sendo cantado por pequenos grupos em ocasiões festivas e nas festas de casamento.
O mandó é, sobretudo, uma canção de amor, de afectos e de saudade, embora também inclua o lamento, a crítica social e o anúncio de acontecimentos. Associado à música, o mandó desenvolveu-se também como uma dança de salão de elevado requinte estético.
Apesar de haver muitos estudos sobre a música tradicional goesa e sobre o mandó, que procuram compreender a sua origem e as suas formas, não há unanimidade sobre esta matéria, embora todos reconheçam uma forte influência ocidental e, sobretudo, portuguesa.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

El Loco é o novo presidente da Argentina

O economista Javier Milei assumiu funções como novo presidente da República Argentina e dizem os cronistas que é um homem da ultra-direita, como Donald Trump, Viktor Orbán, Giorgia Meloni ou Jair Bolsonaro. À sua posse assistiram o rei Filipe VI de Espanha, alguns presidentes sul-americanos (Chile, Uruguai, Paraguai e Peru), Viktor Orbán que é o primeiro-ministro da Hungria, o ex-presidente Bolsonaro e, para surpresa de muita gente, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que para tal fez um voo de 12.816 quilómetros desde Kiev a Buenos Aires. Nenhum presidente ou chefe de governo do G-20, o grupo das vinte maiores economias do mundo, esteve presente.
Na sua juventude Javier Milei foi apelidado de El Loco, devido à agressividade da sua retórica, mas essa alcunha perdurou até aos nossos dias. O facto é que aproveitando a grave crise económica e social argentina e o desespero de muitos compatriotas, Milei conseguiu ser eleito, pois representou a esperança de uma vida melhor para os argentinos. No seu discurso de posse declarou que teve a “pior herança” que um governo argentino alguma vez recebeu, mas prometeu acabar com “a história de decadência e declínio da Argentina”, cujo índice de inflação se situa actualmente em 142,7% anuais.
Milei disse que “no hay plata” e informou que vai cortar 25 mil milhões de dólares no orçamento argentino, correspondentes a cerca de 5% do PIB, embora também tenha prometido “enterrar décadas de fracasso e disputas sem sentido” e afirmado que “hoje começa uma nova era de prosperidade, uma era de crescimento e desenvolvimento, de liberdade e progresso”. Muitos perguntam se o choque económico de Javier Milei é solução para a crise argentina. Só o tempo o dirá.
Entretanto, é caso para perguntar o que fez correr Volodymyr Zelensky para Buenos Aires, a capital de um país onde "no hay plata"?

domingo, 10 de dezembro de 2023

Mundo em mudança e extinção da escrita

Luís de Camões imortalizou-se como autor de “Os Lusíadas”, mas também com a sua obra poética em que se destacam os sonetos, um dos quais se intitula “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, que inclui um verso que nos diz que “Todo o mundo é composto de mudança”. Camões viveu em pleno Renascimento que foi um tempo de mudança artística e tecnológica que ele bem conheceu. Houve depois outros tempos de mudança, mas aquelas a que actualmente assistimos são mais profundas e mais aceleradas do que todas a que o processo histórico assistiu durante séculos.
Não é fácil identificar todos os avanços tecnológicos que estão a transformar o mundo, desde os tempos pioneiros da electricidade e da telegrafia sem fios, até aos mais recentes tempos da aviação, da televisão, da robótica, da internet e, mais recentemente, da inteligência artificial. 
Há um Homem novo em formação nas modernas sociedades, em que o pensamento e a acção são, cada vez mais, decididos por computadores, eventualmente em formato de smartphone ou telefone inteligente, que nos acompanham nos bolsos e que nos mostram as horas, a meteorologia, a localização, o correio, as notícias e um sem-número de informações úteis, que nos são acessíveis através das chamadas aplicações. Os poderes e os interesses instituídos, bem como as suas televisões, adoptam cada vez mais uma formatação que, através da repetição e da manipulação, nos impingem e repetem inverdades que, naturalmente, moldam o pensamento e a opinião de muita gente. No mundo em mudança em que vivemos, o Homem precisa cada vez menos de pensar.
Neste contexto, é muito esclarecedora a reportagem hoje publicada pelo diário catalão elPeriódico, que em primeira página destaca o título “escribir a mano, un hábito en extinción”, acrescentando que quatro em cada dez espanhóis quase não praticam a escrita. É o mundo em mudança, como escrevera Camões há mais de quatrocentos anos!

sábado, 9 de dezembro de 2023

Icon of the Seas: um navio grande demais

O jornal Diario de Cadiz anunciou há dois dias que “el gigante se pone a punto en Cádiz” e acrescenta que “el Icon of the Seas, el crucero más grande del mundo, ultima en Navantia su viaje inaugural”.
O gigantesco navio que tem um deslocamento de mais de 250 mil toneladas e 365 metros de comprimento, foi encomendado pela Royal Caribbean International e foi construído nos estaleiros Meyer Turku, que ficam situados na costa sudoeste da Finlândia. No passado mês de Junho o navio realizou os seus primeiros testes de mar e, em Outubro, foi iniciada a formação dos cerca de 2.350 tripulantes que vão guarnecer o navio e que irão servir até um máximo de 7.600 passageiros, isto é, o navio transportará normalmente cerca de 10 mil pessoas. Actualmente, o Icon of the Seas encontra-se no porto de Cádiz nos derradeiros preparativos para a sua viagem inaugural, que sairá de Miami em Janeiro e escalará as Caraíbas, sendo de 1.800 dólares por sete noites o preço mínimo a pagar por cada passageiro.
Quando iniciar a sua exploração comercial, o navio oferecerá aos seus passageiros vinte pavimentos (ou decks), 2.805 camarotes, sete piscinas, um parque aquático que será a grande atracção do navio, minigolfe, simulador de surf, três dezenas de restaurantes, bares, casino e, como aparece escrito num texto promocional, “tudo (ou quase tudo) o que se possa imaginar”.
O Icon of the Seas é grande demais e, provavelmente, muitos dos seus passageiros vão estar tão ocupados nesta cidade-flutuante, que nem terão oportunidade para ver o mar.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Zelensky e a Ucrânia: o cansaço e a dúvida

Depois de várias semanas de silêncio em relação ao conflito da Ucrânia, que foi passado para segundo plano por causa da guerra entre Israel e o Hamas, reapareceram na imprensa internacional as notícias sobre a guerra entre russos e ucranianos. Porém, as notícias não são no sentido mais desejado que seria o cessar-fogo, as negociações, a paz e o sossego para o martirizado povo da Ucrânia Oriental que, desde 2014, vive em estado de guerra.
Hoje, o jornal The New York Times escreve que “Ukraine still hopes for further U. S. military aid”, enquanto a imprensa francesa veicula muitas preocupações em relação ao futuro dos ucranianos, com o diário Le Figaro a referir que “l’Ukraine de plus en plus isolée face à la Russie”, o jornal Libération Champagne a escrever “Guerre en Ukraine, de plus en plus seuls…” e o Courrier international a dizer que “Zelensky l’heure di doute”.
Parece que os ucranianos começam a ser abandonados, depois de terem sido tão empurrados para resistir à invasão russa. As viagens de tantos dignitários a Kyev e as promessas de apoio militar tinham criado uma onda de entusiasmo. Os Leopard e os Abrams, a promessa dos General Dynamics F-16, os mísseis de todos os tipos e as operações especiais, mas também tantos cheques, deslumbraram Zelensky. A propaganda ajudou. Porém, como hoje salienta o Courrier international, “a contra-ofensiva falhou, o cansaço está a espalhar-se entre a população e os aliados de Kiev. Perante uma vitória que parece impossível, a estratégia do presidente ucraniano é cada vez mais contestada”.
Entretanto, algumas informações – falsas ou verdadeiras – que têm sido difundidas, garantem que há generais ucranianos e russos que têm conversado, eventualmente à revelia de Zelensky e de Putin, para encontrar uma solução. Seja.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Notícias fortes de um mundo em mudança

O diário The Wall Street Journal, que é o jornal de maior circulação nos Estados Unidos, na edição de hoje destaca duas importantes notícias de primeira página relativas à política internacional: uma sobre o apoio americano à Ucrânia e outra sobre as relações de Vladimir Putin com a Arábia Saudita.
A notícia sobre o apoio americano à Ucrânia, refere que os Republicanos bloquearam o projecto de financiamento destinado ao apoio à Ucrânia, o que levou a administração de Joe Biden a anunciar que “não terá dinheiro para apoiar a Ucrânia na sua luta contra a Rússia e ficará sem recursos para adquirir mais armas e equipamentos para Kiev”.
A outra notícia é ilustrada com uma fotografia do encontro que o presidente russo Vladimir Putin e o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (MbS) tiveram ontem em Riad. Estes dois países controlam um quinto da produção diária de petróleo no mundo e ambos precisam que o seu preço seja elevado, porque o petróleo é a força vital das suas economias. Para além dos seus interesses convergentes na área do petróleo, estes dois países têm ambições semelhantes na esfera das relações internacionais. A Arábia Saudita pretende afirmar-se como uma potência regional, menos dependente da tutela americana e daí a sua aproximação ao Irão e à Rússia, enquanto a Rússia procura contrariar as tentativas ocidentais que visam o seu isolamento internacional, sobretudo depois da invasão da Ucrânia. Estas duas notícias destacadas pelo The Wall Street Journal mostram como os diversos países se procuram ajustar às realidades estratégicas de um mundo em mudança e, uma vez mais, revelam como a Europa conta cada vez menos na política internacional. O recente anúncio da revista Forbes informando que Ursula von der Leyen foi escolhida como a primeira das “the World’s 100 Most Powerful Women”, parece mesmo uma verdadeira caricatura.

O Ocidente hesita e a Ucrânia treme

O conflito na Ucrânia já dura há mais de nove anos sem que haja sinais de solução e, depois da recente e grave crise surgida em Gaza, o problema ucraniano até parece ter sido esquecido.
Tudo começou em Fevereiro de 2014 com a agitação civil e as manifestações de Kyev a favor da integração europeia, que ficaram conhecidas como Euromaidan e que levaram o presidente pró-russo Viktor Yanukovych a abandonar o poder. Na sequência destes acontecimentos seguiu-se a intervenção russa que ocupou a Crimeia e o seu apoio às forças separatistas de Donetsk e Lugansk.
No dia 24 de Fevereiro de 2022, perante a hipótese da Ucrânia ser integrada na NATO e de ser admitida na União Europeia, a Federação Russa sentiu-se provocada e ameaçada, tendo decidido invadir a Ucrânia. A chamada “operação militar especial” desencadeada às ordens de Vladimir Putin não correu bem e, sob o comando de Volodymyr Zelensky, a cidade de Kyev resistiu. Desde então, o que vamos sabendo é contaminado pelas propagandas, mas parece que a situação no terreno é estacionária, com os russos a ocupar quatro regiões ucranianas (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia) e com os ucranianos a resistir, embora a depender directamente do apoio militar da União Europeia, dos Estados Unidos e do Canadá.
A Ucrânia exige a retirada das tropas russas de todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia, como condição prévia para se sentar à mesa de negociações, mas os russos não cedem nas suas exigências de anexação das regiões que, histórica e culturalmente, consideram russas. O problema é que a ajuda ocidental à Ucrânia se está a tornar mais dispendiosa do que foi previsto e que os resultados operacionais não são animadores. Como hoje refere o diário francês Le Télégramme, o Ocidente hesita e a Ucrânia treme.

Maduro tem “novo mapa” da Venezuela

O insólito referendo realizado no passado domingo na Venezuela, em que era perguntado aos eleitores se o governo ficava “autorizado” a invadir a vizinha Guiana para ocupar três quartos do seu território, teve o resultado esperado. A onda de propaganda nacionalista a favor da anexação do Essequibo produziu efeitos, pois mais de dez milhões de venezuelanos, correspondentes a mais de 95% dos votantes, votaram “Sim”. Foi uma verdadeira união nacional e uma explosão de nacionalismo à maneira sul-americana, em que até a oposição se juntou ao governo de Nicolas Maduro que, naturalmente, logo afirmou que “el pueblo habló bien claro”.
A Guiana ou República Cooperativa da Guiana é independente desde 1970 e tem uma superfície de cerca de 214 mil quilómetros quadrados (mais do dobro de Portugal), mas tem menos de um milhão de habitantes. Trata-se de um país que mantém alguns problemas fronteiriços que herdou do tempo colonial, tanto com o Suriname, como com a Venezuela. As reivindicações da Venezuela acentuaram-se desde que, recentemente, foram descobertas enormes reservas de petróleo na região de Essequibo. Daí a excitação de Nicolas Maduro e a oportunidade que está a aproveitar para consolidar o seu poder, ao mobilizar os venezuelanos em torno da ideia de integrar o Essequibo no seu território. Assim, mal foi conhecido o resultado do referendo, Nicolas Maduro mandou criar o novo estado da Guiana Essequibo e divulgou o “novo mapa” da Venezuela com a incorporação daquele território, ao mesmo tempo que anunciou a concessão de licenças para explorar petróleo naquela região, determinando ainda que o “novo mapa” seja publicado e levado às escolas e às universidades.
Um conflito regional parece estar em curso, embora exista a convicção de que Maduro esteja a pressionar a Guiana para negociar a resolução desta reivindicação. Porém, não é seguro que ele resista à pressão da onda nacionalista que foi criada na Venezuela e que descarte uma iniciativa armada para, de facto, ocupar o Essequibo.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Gaza: sem precedentes, limite ou piedade

A resposta israelita às barbaridades cometidas pelo Hamas no passado dia 7 de Outubro tem sido caracterizada por uma enorme brutalidade, que tem provocado a destruição das infraestruturas e do parque habitacional de Gaza, causando muitos milhares de mortos, a maioria dos quais é inocente e nada tem a ver com as práticas do Hamas. Houve uma esperançosa trégua acordada por razões humanitárias, mas depressa foram retomados os violentos bombardeamentos do território de Gaza, cada dia mais bárbaros e mais cruéis, feitos à revelia do direito humanitário, deixando claro que Israel não quer apenas a destruição do Hamas, mas que também quer riscar Gaza do mapa e expulsar os palestinianos daquele território. Hoje, o jornal francês Libération destaca os bombardeamentos de Gaza e classifica-os: sem precedentes, sem limite, sem piedade.
As imagens televisivas são esclarecedoras quanto à brutalidade da intervenção das IDF, as Forças de Defesa de Israel, mas uma parte do mundo tem assistido a toda esta violência desproporcionada sem expressar uma clara condenação da barbárie conduzida por Benjamin Netanyahu, à qual até se opõem os sectores moderados da sociedade israelita.
Neste contexto, continua a ser verdadeiramente lamentável a forma como a União Europeia mostra compreensão pela barbaridade israelita conduzida em nome do seu “direito de resposta”, ao mesmo tempo que revela uma gravíssima indiferença pelo sofrimento do povo palestiniano. Esperava-se mais de Charles Michel e de Ursula von der Leyen, mas também dos líderes de cada um dos 27 líderes dos estados-membros da União Europeia. Entretanto, são várias as vozes que vão condenando as atrocidades cometidas por Israel, com destaque para os líderes do Brasil e da Espanha, mas também de António Guterres. Outros, como o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, exigem que Benjamin Netanyahu seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional, tendo-o já indiciado oficialmente com a acusação de cometer genocídio em Gaza.
Pergunta-se: quem poderá travar estes falcões que afirmam mover-se em nome da civilização?

sábado, 2 de dezembro de 2023

As ambições geo-económicas da Venezuela

No próximo domingo vai realizar-se um insólito referendo na Venezuela, no qual cerca de vinte milhões de venezuelanos irão responder a uma pergunta considerada provocadora: “Debería el gobierno obtener un cheque en blanco para invadir a la vecina Guyana para arrebatarle tres cuartas partes de su territorio”?
Este referendo tem como objectivo a rejeição de uma decisão judicial de 1899 que estabeleceu a fronteira da Venezuela com a Guiana, que é uma antiga colónia da Grã-Bretanha e dos Países Baixos. Em causa está a disputa do território de Esequibo que tem cerca de 160 mil km quadrados e é contíguo à Venezuela, onde foram descobertas grandes reservas de petróleo em 2015 e onde há poucas semanas houve novas descobertas.
O assunto não é novo pois vem do século XIX e tem estado sob mediação da ONU, mas quando o regime de Nicolas Maduro viu o governo da Guiana a fazer concessões a companhias petrolíferas, reagiu e tem ameaçado com uma acção militar para ocupar o Esequibo. Nessas circunstâncias, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) pediu à Venezuela para se abster de qualquer iniciativa que altere a actual situação, mas a Venezuela não lhe reconhece competência para resolver este diferendo. Muito atento, o Brasil enviou o seu assessor presidencial Celso Amorim a Caracas e, no Dubai, onde ambos se encontram, o presidente Lula da Silva vai encontrar-se com Mohamed Irgan Ali, o seu homólogo da Guiana.
A imprensa internacional veicula as mais diferentes opiniões sobre este referendo. Uns dizem tratar-se de uma manobra política de Maduro para excitar o nacionalismo venezuelano e reanimar a sua popularidade, outros defendem que Maduro nada fará para não agravar o seu isolamento internacional, mas outros afirmam que a ameaça de uma intervenção militar é real e que até a oposição venezuelana a apoia. O facto é que o governo da Guiana já avisou Maduro “que no subestime el derecho del país a defender-se”. Entretanto, o regime de Maduro lançou uma agressiva campanha nos meios de comunicação em que é constantemente repetida a mensagem “El Esequibo es nuestro”, ao mesmo tempo que o jornal El Universal alinha nessa campanha e escreve "Toda Venezuela en defensa del Esequibo”.
Até parece a campanha de 1982, quando a Junta Militar Argentina chefiada pelo general Leopoldo Galtieri usou o nacionalismo e a campanha “Malvinas argentinas” para a fazer uma guerra contra a Grã-Bretanha de que saiu derrotada…

COP28: de que é que eles estão à espera?

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 é a 28ª conferência promovida pelas Nações Unidas para pressionar os governos a adoptar políticas que limitem o aumento da temperatura global do nosso planeta e para que se adaptem aos impactos que aparecem associados às alterações climáticas. A conferência é conhecida como a COP28, realiza-se no Dubai até ao dia 12 de Dezembro e nela estão presentes delegados de quase duzentos países, incluindo alguns dos líderes mundiais e o primeiro-ministro António Costa. O anfitrião e presidente da COP28 é o sultão Ahmed Al Jaber dos Emirados Árabes Unidos.
O primeiro dia dos trabalhos foi marcado pelo discurso de abertura de António Guterres, o homem que fez da luta contra as alterações climáticas o seu maior desafio e que recentemente visitou a Antártida e o Nepal, verificando pessoalmente o degelo da calote polar e a fusão de glaciares, cujos efeitos “estão à vista de todos” nos deslizamentos de terras, nas inundações e na subida do nível dos mares. Disse Guterres que “os sinais vitais da Terra estão a falhar: emissões recorde, incêndios ferozes, secas mortais e o ano mais quente de sempre. Estamos a milhas dos objetivos do Acordo de Paris – e a minutos da meia-noite para o limite de 1,5 graus. Mas não é demasiado tarde. É possível evitar o colapso e o incêndio do planeta. Dispomos das tecnologias necessárias para evitar o pior do caos climático – se agirmos agora”. Guterres não está sozinho e um dos seus aliados é Lula da Silva que declarou que “o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”. 
Entretanto, o jornal londrino The Independent perguntava na sua edição de ontem “de que é que estão à espera?” Porém, um pequeno sinal positivo aconteceu no início da cimeira, pois foi acordada a constituição de um fundo de “perdas e danos” para apoiar os países mais pobres afectados pelos efeitos das alterações climáticas a ser gerido pelo Banco Mundial, que mobilizou 420 milhões de dólares. Foi apenas um sinal...