terça-feira, 26 de dezembro de 2023

O apelo à paz no discurso de Carlos III

Se eu fosse nascido no dia 5 de Outubro de 1910 e já tivesse idade para isso, eu estaria ao lado daqueles que instauraram a República em Portugal. Eu sou um republicano convicto pois entendo que o chefe do Estado deva ser escolhido pelos cidadãos por períodos limitados, além de não me agradar a hierarquia social nem o sistema de privilégio que vive à volta das realezas, muitas vezes sem qualquer mérito. Porém, nada me move contra os vários soberanos que reinam na Europa, como Filipe VI de Espanha, Carlos III do Reino Unido, Filipe I da Bélgica, Guilherme Alexandre dos Países Baixos, Margarida II da Dinamarca, Carlos Gustavo da Suécia ou Harald V da Noruega, acontecendo que muitas vezes eles nos surpreendem com mais coragem, mais princípios e mais bom senso do que muitos daqueles que são escolhidos pelo povo para os dirigir.
O exemplo de Carlos III é elucidativo. Em Setembro de 2022 ascendeu ao trono por morte da sua mãe a rainha Isabel II, quando tinha 73 anos de idade, havendo muitas dúvidas sobre a sua idoneidade para ser a cabeça do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e de mais 14 Estados soberanos e independentes chamados Reinos da Comunidade de Nações (Commonwealth), onde se incluem a Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia, entre outros.
A subida ao trono de Carlos III não me despertou nenhum interesse especial, até que li o discurso de Natal que ontem fez aos seus súbditos. Nesse discurso, apelou à ”protecção do planeta” porque é “a casa que todos partilhamos” e, embora não tendo abordado directamente os conflitos na Ucrânia ou na Faixa de Gaza, falou nos “conflitos cada vez mais trágicos” que se travam no mundo. Disse que “não façamos aos outros o que não queremos que nos façam a nós” e, vários jornais como o Scottish Daily Mail, destacaram “o apelo pela paz no discurso de Natal do Rei”. Quando muitos dirigentes europeus estão calados, indiferentes ou alinhados com a guerra, as suas tragédias e os seus negócios de armamento, as palavras de Carlos III alinham-se com a esperança e com a paz. Até que enfim que alguém fala em paz...

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