terça-feira, 8 de outubro de 2019

R.I.P. Maria Manuela Silva

A  economista  Maria Manuela Silva faleceu ontem aos 87 anos de idade, depois de uma longa carreira académica como professora catedrática do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e de ter dedicado a sua vida às causas da justiça social, sobretudo o combate às desigualdades e à pobreza, que considerava uma violação dos direitos humanos.
O percurso académico e a militância religiosa cruzaram-se ao longo da sua vida, tendo centrado a sua investigação académica nas áreas da pobreza, das desigualdades sociais e da distribuição de rendimentos, defendendo políticas económicas dirigidas em primeiro lugar ao bem-estar social.
Teve, também, uma intervenção política ao integrar o 1º governo constitucional presidido por Mário Soares, como secretária de Estado do Planeamento e, durante o recente período de assistência financeira externa, foi uma voz activa contra o programa de estabilidade imposto pela troika.
Professora jubilada do ISEG e Doutora Honoris Causa pela então Universidade Técnica de Lisboa, Manuela Silva esteve activamente envolvida nos movimentos católicos, tendo sido Presidente do Movimento Internacional dos Intelectuais Católicos e da Comissão Nacional Justiça e Paz. Era uma economista ao serviço das pessoas, sobretudo das mais desfavorecidas e, certamente, vai ser recordada como uma dinâmica mulher de causas e pelo seu percurso cívico inspirado no Evangelho e na doutrina social da Igreja.
Há muitos anos fui seu aluno no ISEG e, depois, através de amigos comuns, tornei-me seu amigo e reforcei a minha admiração por tão exemplar figura de cidadania. 

O sacrifício curdo e o regresso do Daesh

Em Dezembro do ano passado o presidente Donald Trump anunciou que os militares americanos estacionados no nordeste da Síria iriam regressar a casa porque tinham derrotado o Estado Islâmico (Daesh) e, por isso, a sua missão tinha terminado.
A retirada americana está agora em vias de ser concretizada, depois de um acordo celebrado entre Donald Trump e Recep Tayyip Erdogan que “autoriza” a Turquia a ocupar uma zona de segurança de 30 km de profundidade ao longo da sua fronteira com a Síria. Segundo refere a imprensa internacional, a retirada americana pode ter graves consequências para as unidades de protecção do povo curdo (YPG), que foram a principal força de combate contra o Daesh e que agora ficam desprotegidas perante o seu inimigo turco, sobretudo nas áreas que eles pretendem ocupar. O jornal Libération pergunta mesmo se os curdos vão ser sacrificados, depois de tudo o que fizeram.
A gradual retirada americana daquelas regiões já começou a ter efeitos negativos, primeiro no Iraque onde o Daesh reapareceu com iniciativa operacional e, agora, no norte da Síria onde também começou a actuar em territórios de onde tinha sido expulso. De acordo com os serviços de informação americanos encontram-se no Iraque e na Síria entre 14 a 18 mil membros do Daesh, incluindo cerca de três mil combatentes estrangeiros, que já retomaram a sua actividade através de assassínios, emboscadas e atentados suicidas.
Significa que quando se imaginava que, embora lentamente, se caminhava para a estabilidade naquela região com a Rússia, o Irão, a Turquia, o Iraque e a Síria a entenderem-se, a retirada americana deixa os curdos à mercê dos turcos e parece abrir as portas ao regresso do Daesh. A ofensiva militar turca já está anunciada e, nestas coisas, o mais difícil é começar...