sábado, 15 de setembro de 2012

Ninguém escapa à recessão europeia

Por vezes tende-se a esquecer que a grave crise financeira por que passa a Europa resulta de erros políticos e de comportamentos económicos irracionais que se acumularam durante muitos anos, que se aprofundaram com a recente crise do crédito hipotecário, com a desenfreada especulação, a falta de liquidez bancária e com a quebra de confiança geral no sistema financeiro. A falência do Lehman Brothers, o quarto maior banco comercial dos Estados Unidos, veio mostrar que a generalidade da actividade bancária era fraudulenta, que a crise já afectara a economia real e que o sistema financeiro europeu já estava contagiado.
Todos os governos europeus, mais à direita ou mais à esquerda, cometeram o mesmo tipo de erros e nenhum está imune à crise financeira internacional. Em maior ou menor grau todos os países da Europa foram afectados, atenuaram o seu crescimento ou entraram em recessão e foram obrigados, ou obrigaram-se, a adoptar políticas de austeridade.
Até o Luxemburgo, que é o país com maior rendimento per capita da União Europeia e que, considerando apenas esse indicador, é o país mais rico da União Europeia, está confrontado com a recessão. E é curioso analisar a informação dos Serviços de Estatística da União Europeia – o EUROSTAT – para o ano de 2011: o Gross Domestic Product per inhabitant ou, simplesmente, o produto per capita do Luxemburgo é de 68.900 euros, seguida pela Holanda com 32.900 euros, enquanto a média da zona EURO27 é de 25.200 euros. Nem a Noruega (47.500 euros) nem os Estados Unidos (37.100 euros) se aproximam do rendimento luxemburguês, mas apesar disso o país não escapa à recessão europeia como noticia Le Quotidien. O centro do mundo está mesmo a mudar.

Eles nem sequer dão o exemplo

Fui consultar o Orçamento do Estado para 2012 e verifiquei que foi fixado um défice de 7645 milhões de euros, equivalente a 4.5% do PIB. Entretanto, no final do 1º trimestre a execução orçamental tinha gerado um défice de 7.9%, que era maior do que aquele que se verificara em 2011, apesar das severas medidas de austeridade adoptadas. Depois, no final do 1º semestre, o défice situava-se em 6.9%. Soaram os alarmes. O "modelo" gaspariano não resultou. As receitas caíram brutalmente. Com arrogância e sem imaginação, o nosso primeiro e o gaspar voltaram-se para as mesmas soluções. Os sacrifícios voltam a ser exigidos aos mesmos. Não é de esperar que corra bem. A crise está a entrar numa dimensão de maior gravidade.
Entretanto, não são tomadas medidas do lado da despesa que sirvam de exemplo e que mobilizem os portugueses. Até parece que não há gorduras no Estado. Hoje o Correio da Manhã denuncia que é o próprio governo que ultrapassa o que pode gastar com os gabinetes ministeriais. Que não cumpre os limites orçamentais. E ficamos todos em estado de choque. Por isso, acabem com esses gabinetes sobredimensionados onde estão instalados os assessores e os chamados especialistas, sem experiência mas com chorudos salários, a quem não cortam subsídios. Tirem-lhes os nossos Audi’s e os nossos BMW’s que eles usam e façam-nos andar de autocarro. Vendam esses carros.  Cortem nas viagens e nas despesas deles. Cortem nas contínuas viagens do portas e do relvas. Cortem no gabinete do nosso primeiro. Cortem nos 16 milhões da Presidência da República. Cortem nos 87 milhões da Assembleia da República. Comecem por aí.