terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Ilhas perdidas e saudades de Moçambique

O semanário moçambicano Domingo destaca na sua última edição uma notícia relativa a um sururu na ilha de Kiriyanhuli, no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado. Nos tempos coloniais conheci essa ilha muito bem. Chamava-se Quero-Niuni e era pouco mais do que um areal desabitado, com duzentos ou trezentos metros de comprimento máximo, com alguma escassa vegetação e um enorme banco que a envolvia e que em baixa-mar descobria algumas centenas de metros de corais.
Segundo a notícia, terá havido uma autorização provisória dada pelo governador da província de Cabo Delgado para que a empresa Durr Mozambique, Lda, que pertence a um deputado moçambicano, ocupe a ilha e ali instale um aldeamento turístico, em associação com investidores sul-africanos.
Esse tipo de investimentos tem sido usual em muitas das três dezenas de ilhas do arquipélago das Quirimbas, pois as suas condições turísticas são excepcionais, com extensos areais, águas límpidas, coloridos corais e variada fauna marítima. Nas ilhas maiores, não tem havido incompatibilidade entre a existência dos aldeamentos ou dos resorts turísticos e as aldeias que nelas existem, nem entre os turistas e os ilhéus. Porém, no caso desta ilha que é pequeníssima, parece haver uma disputa entre os que querem uma exploração turística e aqueles que não abdicam de continuar a viver na sua aldeia formada nos últimos anos, a partir da qual se dedicam à pesca. Não há espaço para as duas realidades e os pescadores reagiram. Daí o sururu.
O facto é que uma notícia relativa a um areal de duzentos ou trezentos metros de extensão nos evoca memórias de um outro tempo e nos desperta saudades de umas ilhas paradisíacas.