domingo, 15 de novembro de 2020

O regresso da guerra ao Saara Ocidental

O jornal El Día que se publica na cidade de Tenerife, anuncia hoje que o estado de guerra voltou ao Saara Ocidental, isto é, voltou a um território que dista cerca de cem quilómetros das ilhas Canárias e, portanto, fica situado às portas da União Europeia. O Saara Ocidental é uma antiga colónia espanhola situada na costa africana a sul de Marrocos, ocupa uma área territorial de cerca de 266 mil km2 de superfície, ou seja, é cerca de três vezes maior do que Portugal e estima-se que tenha menos de 500 mil habitantes, na sua maioria nómadas, islamizados e não alfabetizados. O seu território é árido e quase desértico, mas tem cerca de mil quilómetros de costa, além de um mar territorial e uma zona económica exclusiva que são muito apetitosos economicamente. 
No ano de 1975, quando se estava no auge das descolonizações tardias, a Espanha abandonou aquele território que, por acordo, veio a ser ocupado por Marrocos (dois terços) e pela Mauritânia (um terço). Porém, invocando a representatividade da população, em 1976 a Frente Polisário declarou a independência do território com o nome de República Árabe Saaraui Democrática (RASD), que foi reconhecida por mais de cinquenta países. A partir de então, a Frente Polisário ou o governo da RASD instalado no seu exílio argelino, iniciaram uma guerra contra os dois países ocupantes. A Mauritânia foi derrotada e desistiu das suas pretensões, mas a guerra com Marrocos continuou com dureza até que, por intervenção da ONU, em 1991 se chegou a um cessar-fogo e a um acordo para a realização de um referendo que nunca se realizou. 
Este prolongado cessar-fogo que dura há 29 anos não tem agradado à Frente Polisário que por várias vezes ameaçou retomar a guerra contra Marrocos. O pretexto surgiu no dia 21 de Outubro junto do posto de Guerguerat, na fronteira do Saara Ocidental com a Mauritânia, quando activistas saarauis bloquearam uma estrada e foram atacados pelo exército marroquino, o que levou a Frente Polisário a anunciar que a trégua que vigorava desde 1991 chegara ao fim. Durante o tempo de guerra de 1976 a 1991 terão morrido 7000 soldados marroquinos e 2000 soldados mauritanos, enquanto da parte saaraui se estima que tenham morrido entre um e quatro milhares de combatentes.