sábado, 23 de junho de 2012

Esta austeridade não é solução

Um dia destes, falando no Luxemburgo com aquela entoação monocórdica que já incomoda, o ministro das Finanças salientou que “a informação disponível sobre o comportamento das receitas não é positiva” e anunciou “um aumento significativo nos riscos e incertezas que afectam a execução orçamental”, mas reafirmou o objectivo de cumprir o défice para 2012.
Estas declarações mostram que nem tudo vai bem na execução orçamental, configuram um cenário desastroso e revelam que o objectivo de se conseguir um défice de 4.5% em 2012 está em risco. Agora, ou se reforça a receita com mais impostos, ou se reduzem as despesas ou se convencem as autoridades de Bruxelas a aceitar uma renegociação dos nossos compromissos. É uma situação muito preocupante que a todos nos deve incomodar e, infelizmente, parece que a execução orçamental anda à deriva. Sempre nos foi dito que nada disto seria necessário. De facto, tinha sido previsto que no corrente ano a receita do IVA deveria aumentar 13,6%; depois corrigiu-se essa previsão para 10,6%; agora vêem dizer-nos que vai haver uma quebra de 2.8%. Significa que em poucos meses já existe um desvio de 17.4% entre a primeira e a actual previsão! Isto é que é um desvio colossal! Eu interrogo-me como foi possível tanta cegueira política e tanta ignorância económica, que não deixaram prever os efeitos – directos, indirectos e induzidos – provocados pelo brutal arrefecimento da economia, pela quebra de rendimento das famílias e do consumo, pelo encerramento de empresas e pelo incontrolado aumento do desemprego. Definitivamente, esta austeridade não é solução, até porque está claramente entregue a contabilistas que não estão atentos nem conhecem a realidade do nosso país.
 

Um grande marinheiro!

Porto – Cais da Ribeira
Hoje é noite de São João e a cidade do Porto está em festa, sobretudo nas zonas ribeirinhas e, em especial, no Cais da Ribeira.
É exactamente aí, no segundo andar do prédio situado na rua da Lada, nº 24, próximo das Alminhas da Ponte – um baixo relevo em bronze evocativo da tragédia da Ponte das Barcas ocorrido em 29 de Março de 1809 quando do cerco da cidade pelas tropas do Marechal Soult – que, sobre uma parede de azulejo, se encontra uma lápide com a seguinte inscrição:

Nesta casa nasceu em 18 de Maio de 1881 o Comandante Carvalho Araújo,
que morreu no mar em combate na defesa da Pátria, em 14 de Outubro de 1918

Embora nascido no Porto, José Botelho de Carvalho Araújo passou a infância e a adolescência em Vila Real. Em 1895 ingressou na Escola Naval como Aspirante de Marinha, vindo a tomar parte na revolução de 5 de Outubro de 1910. Depois foi deputado à Assembleia Constituinte pelo círculo de Vila Real e foi governador do distrito moçambicano de Inhambane.
No dia 18 de Outubro de 1918 comandava o caça-minas "Augusto de Castilho" no mar dos Açores, escoltando o paquete "S. Miguel" que navegava do Funchal para Ponta Delgada com mais de um milhar de passageiros, quando foi atacado pelo submarino alemão U-139. Com o seu frágil navio enfrentou o poderoso submarino para dar tempo a que o paquete e os seus passageiros se salvassem, mas nesse desigual combate em que cumpriu o seu dever, veio a perder a vida. Este combate constitui um dos mais célebres episódios da participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial.
Hoje, como ex-deputado e ex-governador, o valente Carvalho Araújo não estaria a comandar o caça-minas "S. Miguel" mas, certamente, estaria na Administração da EDP, CGD, PT, GALP, CIMPOR ou coisa assim. São outros os tempos e diferentes as vergonhas. A cidade de Vila Real homenageou o exemplo do Comandante Carvalho Araújo com uma estátua e a Marinha Portuguesa adoptou-o como um dos seus maiores símbolos. Um grande marinheiro!

"Europe’s most dangerous leader"

A quase centenária revista britânica New Statesman que é publicada semanalmente em Londres, tem um conteúdo essencialmente político. Na sua última edição trata da situação europeia e nela se destaca, em especial, um artigo de Mehdi Hasan intitulado Angela Merkel’s mania for austerity is destroying Europe”. Há duas semanas atrás, também The Economist dizia mais ou menos a mesma coisa e, perante a ameaça de uma recessão mundial, pedia: Start the engines, Angela! 
O artigo de Medhi Hasan começa por perguntar qual o líder mundial que mais ameaça a ordem e a prosperidade globais? O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad? Errado. O primeiro ministro de Israel Binyamin Netanyahu? Errado. O líder norte-coreano Kim Jong-un? Outra vez errado. E surpreendentemente, o autor do artigo responde: é uma fã de ópera, bem educada e antiga farmacêutica que está à frente da Alemanha há sete anos, cuja solução para a crise financeira da Europa - ou a falta dela - pôs a Europa, e talvez o mundo, à beira de uma segunda Grande Depressão. E o artigo acrescenta: “Merkel is the most dangerous German leader since Hitler”, porque está a destruir o processo de reabilitação da reputação alemã que os seus  oito antecessores, desde Konrad Adenauer a Gerhard Schröder, tinham lentamente recuperado. Com o desemprego jovem a atingir os 50 por cento no sul da Europa, com o aumento da tensão social, da contestação nas ruas e dos motins, com a extrema direita europeia a atrair novos adeptos entre os desempregados e os desesperados, a situação social resultante das políticas de austeridade é cada dia mais complexa. E o artigo termina com uma óbvia conclusão: "Merkel is destroying the European project, pauperising Germany’s neighbours and risking a new global depression. She must be stopped". Muito inquietante, indeed! Bom seria que este artigo fosse lido pelos boys que nos dirigem e que tanto gostam das orientações de Frankfurt e de Berlim.