Poucas vezes
terão acontecido em Portugal negócios tão cinzentos como os que foram
conduzidos pelo governo de Passos e Portas que, por motivos ideológicos,
trataram de vender algumas das melhores fatias do nosso património empresarial,
com enorme importância estratégica para o país, mas também com muito valor
simbólico para os portugueses que as ajudaram a construir. Por vezes, o governo
argumentou que a política de privatizações tinha como objectivo a redução da
dívida pública, mas o facto é que esta nunca deixou de aumentar, apesar das
vendas ao desbarato que Passos e Portas fizeram. Nunca se viu o destino dos
encaixes financeiros, se os houve.
Todos nos lembramos da lucrativa EDP que foi
vendida aos chineses, mas essa venda nunca foi bem explicada. Da mesma forma, nunca
se percebeu porque foi vendida a ANA, nem porque os nossos governantes se
desfizeram dos CTT. Agora venderam a TAP e trataram de arranjar justificações
em que ninguém acredita. Venderam porque esse era o seu programa ideológico.
Venderam porque rejeitaram pedir apoio à Comissão Europeia. Venderam à pressa e
já demitidos, provavelmente já no campo da ilegalidade, porque quiseram levar o
seu fanatismo privatizador até ao fim, desculpando-se com os problemas de
tesouraria da empresa. Os espertalhões governamentais quiseram livrar-se da TAP
para se livrarem dos 750 milhões de euros de dívidas e acabaram por ficar com
elas. Absolutamente inaceitável. Os novos donos agradeceram tudo isto e, em
nome da reestruturação da empresa, vão agora vender os terrenos que a TAP
possui junto ao aeroporto avaliados em 146 milhões de euros, que lhe pertenciam
desde 1991 e tinham sido desafectos do domínio público aeroportuário.
O governo foi demitido e a hipótese de venderem a Torre de Belém e os Jerónimos está abortada. Mas o que de mal foi foi feito fica assim, sem ser denunciado?