terça-feira, 26 de outubro de 2021

Há quem queira a crise. Pois vamos a ela!

A Assembleia da República começa hoje a discutir o Orçamento do Estado para 2022 e os deputados vão ser chamados a um dos seus actos mais nobres, embora se espere que não votem pela sua cabeça e se limitem a obedecer às nomenklaturas e aos aparelhos partidários.
O Orçamento do Estado (OE) é um documento e um instrumento de gestão preparado pelo governo, que enumera as receitas previstas e as despesas autorizadas do Estado para o próximo ano, incluindo os fundos e serviços autónomos e a segurança social. Em certo sentido pode dizer-se que a vida de todos os cidadãos depende do OE, mas num quadro de necessidades ilimitadas e de recursos escassos, a sua preparação é um exercício muito complexo porque não é possível satisfazer as aspirações de todos, com menos impostos, mais rendimentos, mais saúde, mais educação, mais justiça, mais segurança, melhores estradas, melhores transportes e por aí adiante. Por isso há que fazer escolhas segundo determinados critérios e, em função dessas escolhas, os cidadãos apoiam ou não apoiam os governantes que prepararam o OE. No entanto, nesta discussão do OE, não têm estado em causa os portugueses nem os seus problemas, mas tão só os interesses e as estratégias partidárias que se movem como se o país fosse um tabuleiro de poker e os interesses partidários ou pré-eleitorais a tudo se sobrepusessem. 
O governo que preparou o OE 2022 é minoritário e procura as alianças necessárias para conseguir uma maioria que o vote favoravelmente. Negoceia e cede, o que é normal. Aperfeiçoa o documento, o que é desejável. Porém, não pode ir de cedência em cedência, desvirtuando a sua proposta e tornando-a a proposta de outros. Nessas circunstâncias não há acordo e só há uma solução: antecipar eleições para que o povo diga de sua justiça. O custo desta decisão é elevado e talvez fique tudo na mesma, mas ver-se-á depois quem ganhou e quem perdeu com a arrogante teimosia de alguns interesses minoritários que querem ganhar na secretaria o que não ganharam nas urnas.