domingo, 8 de maio de 2022

Quem não quer a paz que Guterres deseja

António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, esteve em Ancara no passado dia 25 de Abril para falar com Recep Erdogan, esteve em Moscovo no dia 26 para falar com Vladimir Putin e esteve em Kiev no dia 28 para falar com Volodymyr Zelensky. Na altura foi muito criticado, inclusive por alguma comunicação social portuguesa, porque a sua iniciativa foi demasiado tardia. Porém, os resultados foram positivos e foi possível retirar idosos, mulheres e crianças do Azovstal, o complexo industrial da cidade de Mariupol, tendo António Guterres declarado depois que, mesmo em tempo de hipercomunicação, a diplomacia silenciosa produziu e pode produzir mais resultados. Durante esses dias, ele recusou dar detalhes sobre as operações em curso “para evitar minar possíveis sucessos”.
Ao contrário de Guterres, muitos têm sido os líderes que têm ido a Kiev para mostrar solidariedade ou levar um cheque mas, sobretudo, apenas para se mostrarem e fazerem a sua propaganda pessoal.
A imprensa mundial a que temos acesso, que tanto tem feito para formatar as opiniões públicas através da repetição exaustiva das mesmas histórias, dos mesmos relatos e dos mesmos comentários, simplificando o que é uma história complexa e reduzindo-a frequentemente a uma confrontação entre o bem e o mal, não deu relevo aos esforços de António Guterres e, pelo contrário, todos os dias anuncia o envio de mais javelins e mais stingers, mais carros de combate destruídos ou mais aviões abatidos.
Nestas circunstâncias, tem um enorme significado a declaração unânime do Conselho de Segurança das Nações Unidas de “forte apoio” aos esforços do secretário-geral para encontrar uma solução pacífica para o conflito, pois foi a primeira vez que produziu uma declaração conjunta sobre a Ucrânia, desde que a guerra começou no dia 24 de Fevereiro. Reagindo a essa declaração, António Guterres afirmou, em comunicado: "Hoje, pela primeira vez, o Conselho de Segurança falou a uma só voz pela paz na Ucrânia. Como tenho dito muitas vezes, o mundo deve unir-se para silenciar as armas e defender os valores da Carta das Nações Unidas". É exactamente isso, que aqui temos defendido mas, objectivamente, tanto a imprensa nacional como a internacional parecem não se interessar por estes esforços de António Guterres.