quarta-feira, 11 de junho de 2025

Camões: autor moderno e premonitório

Estão a decorrer as comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões e esse facto influenciou o importante discurso que a escritora Lídia Jorge proferiu em Lagos no dia 10 de junho, que é o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Luís de Camões é um poeta do Renascimento e da Modernidade, é uma figura inspiradora da cultura portuguesa e da identidade nacional. 
N’Os Lusíadas, ele celebra a viagem de Vasco da Gama e faz inúmeras observações sobre a História de Portugal, com as suas grandezas e as suas tragédias. De entre as inúmeras mensagens deixadas ao longo dos dez Cantos da obra, sempre admirei o episódio do Velho do Restelo, que se encontra cantado entre as estrofes 94 e 104 do Canto IV, em que “um velho, de aspecto venerando”, “com um saber só d’experiência feito”, falou e, entre outras coisas, disse o seguinte:

   Ó glória de mandar! Ó vã cobiça/ Desta vaidade a quem chamamos fama (XCV)

   A que novos desastres determinas/ De levar estes Reinos e esta gente? (XCVII)

   Deixas criar às portas o inimigo/ Por ires buscar outro de tão longe (CI)

   Buscas o incerto e incógnito perigo/ Por que a Fama te exalte e te lisonje (CI)

   Deixa intentado a humana geração./Mísera sorte! Estranha condição! (CIV)

Glória de mandar, cobiça, vaidade, fama, mísera sorte... Hoje, os versos de Camões revelam-se premonitórios perante o que está a acontecer em Kiev e em Gaza, em Los Angeles e em Paris, mas em muitas mais cidades europeias e americanas.