domingo, 20 de novembro de 2016

O nacionalismo de Trump & Companhia

As eleições americanas que Donald Trump venceu foram marcadas por algumas palavras de ordem do tipo Make America great again e America First, que os comentadores internacionais têm repescado para criticar o anunciado reaparecimento de um nacionalismo americano que pode perturbar os actuais equilíbrios mundiais. Esta situação surge na linha de preocupações semelhantes que se vão acumulando na Europa e cujo exemplo maior é o Brexit, mas que se têm revelado também noutros países como a França, a Holanda, a Áustria, a Hungria, a Turquia e não só, onde por vezes se têm desafiado os limites da democracia em nome de um novo nacionalismo. De facto, a insatisfação das populações perante a incapacidade das lideranças políticas tem sido capturada por alguns movimentos nacionalistas, uns de direita e outros de esquerda, que agitam as bandeiras da ameaça externa, da acentuação das desigualdades, da corrupção generalizada, do aumento da pobreza, da degradação do ambiente e, de um modo geral, da incerteza no futuro. Esses movimentos, mais ou menos organizados, têm mobilizado as populações e os eleitores contra os establishment partidários, através do aparecimento de novos partidos ou da reinvenção dos que já existem. Assim, as ideias populistas proliferam. Embora o fenómeno ainda não seja bem conhecido como têm mostrado os enormes erros das sondagens, quer na Europa quer nos Estados Unidos, o facto é que dele já emergem figuras tão controversas como Donald Trump e outros que se vão afirmando na Europa, como a francesa Marine Le Pen, o inglês Nigel Farage ou o turco Recep Tayyip Erdoğan.
A mais recente edição da revista The Economist chamou esse tema à sua primeira página com um título e uma gravura em que se destaca uma marcha com Donald Trump, Vladimir Putin e Nigel Farage, que nos evocam exactamente o fenómeno do novo nacionalismo a que alguns têm chamado populismo, destacando que se trata de um “dangerous nationalism”. A revista considera o conceito muito escorregadio e separa o nacionalismo cívico que é conciliatório e apela a valores universais (o apoio às selecções de futebol ou as audiências papais, por exemplo) e o nacionalismo étnico que é agressivo, nostálgico e que invoca a história ou a raça para unir as nações, que tão maus resultados deu no passado.
Na realidade, este mundo está mesmo pouco recomendável...