As eleições americanas que Donald Trump
venceu foram marcadas por algumas palavras de ordem do tipo Make America great again e America First, que os comentadores
internacionais têm repescado para criticar o anunciado reaparecimento de um nacionalismo
americano que pode perturbar os actuais equilíbrios mundiais. Esta situação
surge na linha de preocupações semelhantes que se vão acumulando na Europa e cujo
exemplo maior é o Brexit, mas que se têm revelado também noutros países como a
França, a Holanda, a Áustria, a Hungria, a Turquia e não só, onde por vezes se
têm desafiado os limites da democracia em nome de um novo nacionalismo. De
facto, a insatisfação das populações perante a incapacidade das lideranças
políticas tem sido capturada por alguns movimentos nacionalistas, uns de
direita e outros de esquerda, que agitam as bandeiras da ameaça externa, da acentuação das
desigualdades, da corrupção generalizada, do aumento da pobreza, da degradação
do ambiente e, de um modo geral, da incerteza no futuro. Esses movimentos, mais
ou menos organizados, têm mobilizado as populações e os eleitores contra os establishment partidários, através do aparecimento
de novos partidos ou da reinvenção dos que já existem. Assim, as ideias
populistas proliferam. Embora o fenómeno ainda não seja bem conhecido como têm
mostrado os enormes erros das sondagens, quer na Europa quer nos Estados
Unidos, o facto é que dele já emergem figuras tão controversas como Donald Trump e
outros que se vão afirmando na Europa, como a francesa Marine Le Pen, o
inglês Nigel Farage ou o turco Recep Tayyip Erdoğan.
A mais recente edição da revista The Economist chamou esse tema à sua
primeira página com um título e uma gravura em que se destaca uma marcha com
Donald Trump, Vladimir Putin e Nigel Farage, que nos evocam exactamente o
fenómeno do novo nacionalismo a que alguns têm chamado populismo, destacando
que se trata de um “dangerous nationalism”. A revista considera o conceito
muito escorregadio e separa o nacionalismo
cívico que é conciliatório e apela a valores universais (o apoio às selecções
de futebol ou as audiências papais, por exemplo) e o nacionalismo étnico que é agressivo, nostálgico e que invoca a história
ou a raça para unir as nações, que tão maus resultados deu no passado.
Na realidade, este mundo está mesmo pouco recomendável...