O presidente
Donald Trump e o seu secretário da Guerra, Pete Hegseth, reuniram anteontem na
Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico, na Virgínia, com algumas
centenas de generais e almirantes, que vieram de todo o mundo. Segundo a edição
de ontem do jornal The Washington Post, para “transportar e hospedar os líderes
militares de lugares tão distantes quanto o Japão, o Médio Oriente e a Europa
provavelmente custará milhões de dólares”, para um encontro incomum que foi
organizado à pressa e se tornou num fórum para o presidente e o seu secretário
de Defesa divulgarem a sua agenda partidária.
As normas que
desde há muito tempo norteiam as Forças Armadas americanas e da generalidade
dos países democráticos para que se mantenham fora da política partidária,
foram desrespeitadas como nunca acontecera nos Estados Unidos. Segundo o The
Washington Post, os longos comentários de Donald Trump foram ao ponto
de afirmar que “se os presentes não gostassem do que ele tinha a dizer,
poderiam sair da sala”, mas "lá se vai a sua patente, lá se vai o seu
futuro". Na sua intervenção em que usou uma linguagem grosseira e muito
inflamada, Pete Hegseth prometeu tornar as Forças Armadas americanas "mais
fortes, mais resistentes, mais rápidas, mais ferozes e mais poderosas do que
nunca", tendo insistido na necessidade dos altos escalões militares
imporem padrões de aptidão física, de higiene e de disciplina aos seus
subordinados, como se tivessem que ser rambos
ao estilo americano.
Hegseth disse,
também, que irá reformular os canais que as tropas e os funcionários civis têm
à sua disposição para registar denúncias anónimas e lideranças tóxicas, ou
apontar tratamento desigual com base em raça, género, orientação sexual ou
religião, isto é, vai tornar as Forças Armadas americanas um campo de
denunciantes. Ele também condenou as "tropas gordas", incluindo "os
generais e almirantes gordos que circulam nos corredores do Pentágono",
dizendo que isso representa uma má imagem. Todos, disse ele, “serão obrigados a
passar por um teste de aptidão física e atender aos requisitos de altura e peso
duas vezes por ano a partir de agora”.
Os generais e os
almirantes, todos com décadas de experiência militar, ouviram em silêncio os
discursos altamente partidários e muito insultuosos do presidente e do seu
secretário da Guerra, mas este é o preocupante estado a que estamos a chegar
com os militares da mais poderosa nação do mundo a tornarem-se incondicionalmente
obedientes a um poder político que, dia a dia e sob as ordens de Donald Trump, vai se vai afastando da Democracia.