quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Os políticos mandam e as tropas obedecem

O presidente Donald Trump e o seu secretário da Guerra, Pete Hegseth, reuniram anteontem na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico, na Virgínia, com algumas centenas de generais e almirantes, que vieram de todo o mundo. Segundo a edição de ontem do jornal The Washington Postpara “transportar e hospedar os líderes militares de lugares tão distantes quanto o Japão, o Médio Oriente e a Europa provavelmente custará milhões de dólares”, para um encontro incomum que foi organizado à pressa e se tornou num fórum para o presidente e o seu secretário de Defesa divulgarem a sua agenda partidária.
As normas que desde há muito tempo norteiam as Forças Armadas americanas e da generalidade dos países democráticos para que se mantenham fora da política partidária, foram desrespeitadas como nunca acontecera nos Estados Unidos. Segundo o The Washington Post, os longos comentários de Donald Trump foram ao ponto de afirmar que “se os presentes não gostassem do que ele tinha a dizer, poderiam sair da sala”, mas "lá se vai a sua patente, lá se vai o seu futuro". Na sua intervenção em que usou uma linguagem grosseira e muito inflamada, Pete Hegseth prometeu tornar as Forças Armadas americanas "mais fortes, mais resistentes, mais rápidas, mais ferozes e mais poderosas do que nunca", tendo insistido na necessidade dos altos escalões militares imporem padrões de aptidão física, de higiene e de disciplina aos seus subordinados, como se tivessem que ser rambos ao estilo americano.
Hegseth disse, também, que irá reformular os canais que as tropas e os funcionários civis têm à sua disposição para registar denúncias anónimas e lideranças tóxicas, ou apontar tratamento desigual com base em raça, género, orientação sexual ou religião, isto é, vai tornar as Forças Armadas americanas um campo de denunciantes. Ele também condenou as "tropas gordas", incluindo "os generais e almirantes gordos que circulam nos corredores do Pentágono", dizendo que isso representa uma má imagem. Todos, disse ele, “serão obrigados a passar por um teste de aptidão física e atender aos requisitos de altura e peso duas vezes por ano a partir de agora”.
Os generais e os almirantes, todos com décadas de experiência militar, ouviram em silêncio os discursos altamente partidários e muito insultuosos do presidente e do seu secretário da Guerra, mas este é o preocupante estado a que estamos a chegar com os militares da mais poderosa nação do mundo a tornarem-se incondicionalmente obedientes a um poder político que, dia a dia e sob as ordens de Donald Trump, vai se vai afastando da Democracia.