sábado, 15 de outubro de 2016

António Guterres, maior do que Portugal

Na passada quinta-feira assistimos pela televisão, em directo de Nova Iorque, à designação de António Guterres como o novo Secretário-Geral das Nações Unidas, por unanimidade dos seus 193 membros e por aclamação. Para os portugueses foi uma transmissão histórica. É uma distinção rara ou mesmo única para um cidadão português que o próprio fez por merecer, mas que também resultou de um esforço colectivo nacional que envolveu o Presidente da República, o governo e a oposição, a diplomacia e, certamente, muitos outros intervenientes. Não é comum haver tanta unanimidade nacional em torno de uma causa e desde 1999, quando os portugueses aderiram à causa da independência de Timor-Leste (curiosamente quando António Guterres era primeiro-ministro de Portugal), que nada disto acontecia. Isso enche-nos de orgulho e resgata-nos de muitas humilhações que nos têm feito a Comissão Europeia de Barroso e de Juncker, bem como as senhoras Merkel e Lagarde, mais o Dijsselbloem e o Schauble, entre outros.
O processo de selecção foi longo, duro e transparente. António Guterres foi o melhor ao vencer todas as seis votações, revelando uma superior preparação para o cargo e tendo, entre outras credenciais a seu favor, o seu desempenho como alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Num período de grande tensão internacional, António Guterres teve o apoio unânime do Conselho de Segurança e conseguiu colocar do mesmo lado os Estados Unidos e a Rússia, mas também a China, o Reino Unido e a França.
O cargo que vai ocupar a partir de Janeiro é mais exigente do que qualquer outro que antes tenha desempenhado, com muitas guerras para resolver e com milhões de refugiados para apoiar, num contexto em que a própria ONU acumulou erros e omissões, mas também muitas críticas. Porém, as suas declarações no sentido da gratidão, da humildade e do sentido da responsabilidade são muito animadoras para o mundo.
A revista do semanário Expresso dedica hoje a sua capa ao novo Secretário-Geral da ONU e escolheu o título “maior do que Portugal”, dizendo que “é muito mais do que o rosto das duas grandes vitórias da diplomacia portuguesa nas últimas décadas”. Sem dúvida que os olhos do mundo estarão focados na acção deste nosso compatriota, a quem desejamos felicidades e bons resultados.