sábado, 4 de junho de 2022

Os 100 dias de brutal guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia chegou ao seu centésimo dia e continuamos a saber pouco sobre o que se passa no terreno. Há muitas informações contraditórias e cada uma das partes afirma que vai ganhar a guerra, mas hoje é evidente que são as duas superpotências que se defrontam numa guerra por procuração, como mostra a recente declaração de Antony Blinken a pedir a Vladimir Putin que cesse imediatamente o conflito.
Enquanto isto, as televisões massacram-nos com directos e com demasiados comentadores que pouco nos esclarecem. O rigor e a exactidão, bem como muitas outras regras deontológicas, são grosseiramente ignoradas. Não se percebe onde acaba a notícia e começa a opinião, nem se distingue claramente o que é informação e o que é propaganda. Chama-se a isto a batalha da informação que, aparentemente, é tão violenta quanto a guerra das armas e dos tiros.
As opiniões públicas, tal com as partes directamente envolvidas no conflito, parecem estar cansadas da guerra e das suas consequências na vida das comunidades.
Durante muitas semanas, aqui desejamos o fim da guerra, um cessar-fogo e o início de negociações, mas as últimas semanas mostraram que esse cenário está mais difícil. Os russos intensificaram o seu assalto ao Donbass, enquanto os americanos disponibilizaram aos ucranianos mais um pacote de armamento, com mísseis antitanque Javelin, mísseis antiaéreos Stinger, artilharia pesada e rockets de precisão, radares, drones, helicópteros Mi-17 e munições, embora Joe Biden e Antony Blinken tenham avisado os ucranianos de que aquele material apenas deve ser usado no campo de batalha da Ucrânia. Perante este anúncio, os russos vieram afirmar que os Estados Unidos estão deliberadamente a deitar gasolina para a fogueira.
Significa, portanto, que será entre Washington e Moscovo que a guerra se vai resolver e que as outras partes, incluindo a União Europeia e a Ucrânia, pouco terão a dizer. Isso mesmo se pode concluir da primeira página da edição de ontem do jornal francês Le Parisien, a propósito do 100º dia de guerra, ao publicar a fotografia de Volodymyr Zelensky e o título - héroïques… jusqu’à quand? – insinuando que a resistência ucraniana durará enquanto  os Estados Unidos estiverem dispostos a apoiá-la. Porém, nestas coisas não são as amizades nem as alianças que contam, mas apenas os interesses...