Não tenho
qualquer simpatia pelo treinador de futebol Jorge Jesus, nem pelo seu perfil
cultural, nem pela vaidade que exibe em tudo o que faz e, por isso, quando
raramente a ele me refiro faço-o sempre numa postura de superioridade
intelectual e com apreciações de escárnio e maldizer. Porém, ontem ele deu-me
uma valente bofetada de luva branca ao promover por todo o Brasil o nome de
Portugal e o bom nome dos portugueses, como poucos o terão feito ao longo da
história. Com a vitória do Flamengo sobre o River Plate na Taça Libertadores da
América, o treinador Jorge Jesus tornou-se o mais famoso português que o Brasil
conheceu, ultrapassando a notoriedade de Pedro Álvares Cabral, do Imperador D.
Pedro I que em 1822 deu o grito do Ipiranga ou da dupla Cabral-Coutinho que em
1922 fez a primeira ligação aérea entre Portugal e o Brasil.
Jorge Jesus
brilhou na final disputada em Lima, que foi emocionante e foi vista em todo o
mundo. Aos 88 minutos o River Plate vencia por 1-0 e parecia que a sorte do
jogo estava traçada, com os argentinos a conquistarem a sua quinta Taça
Libertadores. Porém, deu-se o inesperado e, em três minutos, o Flamengo deu a
volta ao resultado. Venceu por 2-1. O último golo foi marcado aos 90+2 minutos e
deixou em delírio os adeptos do Flamengo, mas também todos os brasileiros e
muitos portugueses que assistiram ao jogo pela televisão. O treinador fez os números do costume e até se embrulhou
numa bandeira portuguesa, dedicando a vitória ao povo português e afirmando que
“tenho muito orgulho em ser português”, uma frase que os brasileiros bem
precisavam de ouvir porque, por vezes, usam de uma indesculpável arrogância para com os portugueses.
Foi um acontecimento mediático inesquecível e o Rio de Janeiro vai ter
um Carnaval antecipado. Quem imaginaria que um homem como o treinador Jorge
Jesus iria colocar Portugal na agenda dos brasileiros e que o seu rosto iria
“substituir” o de Jesus Cristo na estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro?