sábado, 6 de março de 2021

O Papa Francisco está em visita ao Iraque

Depois de vinte e quatro anos no poder, o ditador Saddam Hussein foi derrotado pelas tropas de uma coligação liderada pelos Estados Unidos que, no dia 20 de Março de 2003, invadiu o território do Iraque e o veio a ocupar militarmente.
A República do Iraque tinha sido criada na sequência da dissolução do Império Otomano a seguir à Grande Guerra de 1914-18, tornando-se num estado independente em 1919, mas a sua história mostra que nunca foi conseguida a unidade nacional, sobretudo devido às rivalidades religiosas entre xiitas, sunitas e curdos. Daí que os iraquianos tivessem vivido muito tempo com guerras e golpes de estado, tendo sido por essa mesma via que Saddam Hussein ocupou o poder em 1979 e o manteve até 2003.
Saddam Hussein era acusado de possuir armas de destruição em massa e essa foi a justificação para que a coligação invadisse o país à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas essa acusação era falsa. Ele perdeu essa segunda Guerra do Golfo e foi capturado pelas tropas americanas. Seguiram-se os esforços da comunidade internacional patrocinados pelas Nações Unidas para pacificar o país e dar-lhe uma estrutura governativa estável. Porém a guerra abriu uma caixa de Pandora e, desde então, o país tem estado em guerra interna provocada por diferentes facções e sob ameaça externa, bastando recordar duas recentíssimas ocorrências: uma emboscada ocorrida a norte de Bagdad, em que morreram 11 soldados iraquianos e o duplo ataque suicida acontecido no centro de Bagdad, em que houve 32 mortos e 110 feridos. É nesse contexto de instabilidade nacional e de recrudescimento das actividades terroristas e do reaparecimento dos jihadistas do Estado Islâmico, que se está a realizar a viagem do Papa Francisco ao Iraque, em defesa da paz e da tolerância religiosa, mas também em apoio aos cristãos iraquianos. É um grande acontecimento no caminho da paz entre os iraquianos, mas também é um acto de grande coragem do Papa, tendo sido noticiado com destaque na imprensa internacional, designadamente pelo The Wall Street Journal.
O Papa Francisco chegou ontem a Bagdad e as primeiras notícias que nos chegam são promissoras, porque o encontro que já manteve com o ayattollah Ali al Sistani, a máxima autoridade religiosa dos xiitas, se traduziu num pacto de amizade sem precedentes entre cristãos e xiitas, de que resultará a protecção da minoria cristã no Iraque e em outros países do Médio Oriente.