A política de austeridade que tem sido seguida em Portugal está a afectar seriamente as nossas estruturas sociais e a transformar a vida das pessoas, criando-lhe dificuldades inesperadas. As medidas fiscais que têm sido adoptadas, o desemprego, a perda de rendimentos do trabalho, a generalizada subida dos preços de bens essenciais e a recessão económica, têm dado origem a um preocupante empobrecimento das famílias. À crise orçamental, juntaram-se a crise financeira, a crise económica e, agora, a crise social. A situação já pode ser classificada como grave. Ao percorrermos as ruas das nossas cidades e vilas, somos confrontados com o desolador retrato de uma crise profunda para a qual não vemos saída no curto prazo, com inúmeras casas comerciais encerradas e abandonadas, enquanto outras procuram resistir ao estertor que as ameaça, através de saldos, promoções e outras formas de atracção da clientela. Se as grandes superfícies já tinham provocado a inviabilização do pequeno comércio, a actual crise parece acelerar o seu fim e aprofundar irremediavelmente esse modelo de negócio.
Porém, no meio desta preocupante situação de austeridade e crise social, há quem não fique de braços caídos e recorra a todos os dotes de imaginação e de iniciativa para obter rendimentos. Seguem, provavelmente, a famosa declaração do nosso primeiro, quando afirmou que a crise deve ser encarada como uma oportunidade para mudar de vida. Será que os “preços do arco-da-velha” e os croquetes a 13 cêntimos, certamente com 23% de IVA incluído, que se anunciam nas proximidades de Santarém, são a concretização de uma oportunidade para mudar de vida?