terça-feira, 29 de junho de 2021

Marcelo foi contagiado pela futebolite

O jornal Tal & Qual foi fundado em 1980 e teve grande sucesso editorial, mas em 2007 cessou a sua publicação. Porém, cerca de catorze anos depois, voltou às bancas como semanário de informação geral e é um regresso que se saúda.
Na sua última edição o jornal escolheu para manchete “Marcelo anda a pôr Belém num virote”, mas o assunto não me interessou porque não tenho nenhuma curiosidade em saber a forma como o venerando Chefe do Estado faz a gestão da sua residência oficial.
Entretanto, vieram os dias do Euro 2020, com a comunicação social a infectar a sociedade portuguesa de uma forma absolutamente desproporcionada e a deixar no espírito dos mais distraídos a ideia de que o futebol era a coisa mais importante das nossas vidas. Com o entusiasmo fora dos limites, não só o Presidente da Assembleia da República perdeu a cabeça, como o próprio Presidente da República veio dar razão ao Tal & Qual, ao pôr o país num virote, pois alinhou no generalizado desvario que se abateu sobre o país, fazendo ao mesmo tempo de comentador, de adepto e de seleccionador. Foi um absoluto exagero, estudado e preparado, sempre com os microfones e as câmaras à vista, como ele tanto gosta. Naturalmente, decidiu assistir ao jogo Portugal-Bélgica, mas não escolheu o recato da sua casa, mas preferiu um restaurante com os inevitáveis microfones à volta. No dia seguinte, tomou a decisão de ir esperar os jogadores que, por acaso tiveram a pior prestação de sempre naquela competição. Mais um exagero. O jornal O Jogo escreveu que “Marcelo decidiu dar colo à selecção”, mas mais nenhum jornal ligou à inapropriada presença de Marcelo Rebelo de Sousa, que foi dizer que éramos tão bons como o campeão do mundo, que éramos melhores que o número um do ranking mundial, que jogámos mais do que eles e que a luta continua. Foi demasiado colo. É demasiado populismo. É bom que o Presidente da República seja inteligente, culto, cosmopolita e democrata, mas estes exageros não são nada recomendáveis.