quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A fanfarronice de Putin não serve a paz

Ao fim de sete meses de guerra, o imperial Vladimir Putin falou ao seu povo e tratou de radicalizar o seu discurso, ao anunciar a mobilização de mais tropas e ao ameaçar a Ucrânia e aqueles que a apoiam, com mais armas, incluindo o seu arsenal nuclear. Como é evidente, esta reacção é a resposta ao crescente poderio militar ucraniano e a alguns desaires que as forças russas têm sofrido, como foi o insucesso do assalto a Kiev, o afundamento do cruzador Moskva e o seu recente recuo na chamada batalha de Kharkiv. Ninguém esperaria que Putin fizesse um discurso apaziguador, mas também não se esperava que optasse por esta escalada verbal, que meio mundo já condenou. O jornal polaco Gazeta wyborcza destacou o discurso e salientou que “Putin voltou a ameaçar”. Com esta opção de Putin, a guerra vai continuar, a destruição e a morte vão prosseguir, enquanto a paz por que muitos anseiam vai ter de esperar. 
As guerras consomem recursos e alteram as conjunturas económicas, daí resultando dificuldades no quotidiano das populações e efervescência nas opiniões públicas. O exercício do poder e as opções políticas são sempre muito dependentes das opiniões públicas e, como se tem visto, são cada vez mais os que estão fartos da guerra, tanto na Rússia como no Ocidente. Chega a parecer que serão as opiniões públicas que irão exigir aos seus governos, que parem a guerra e tratem de conversar.
Praticamente à mesma hora do discurso de Putin, nos termos de um acordo de cooperação espacial assinado em Julho, dois astronautas russos e um americano, partiram do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, tendo já chegado à estação espacial onde vão permanecer seis meses. À mesma hora era anunciada a maior troca de prisioneiros desde o início da guerra, envolvendo cerca de 300 combatentes, incluindo dez estrangeiros e os comandantes do batalhão Azov, que se tinham rendido em Mariupol e que estariam à espera de julgamento.
O discurso de Putin não encaixa com a cooperação espacial, nem com a troca de prisioneiros. Talvez ele tivesse precisado dessa fanfarrocine como condição prévia para aceitar falar de paz.