A
recente rebelião do presídio de Manaus em que se confrontaram grupos rivais e
que se saldou em 60 mortos e 184 fugitivos, não é só um acontecimento trágico,
mas também é um sinal muito preocupante da situação social que se vive em
algumas regiões brasileiras, com evidentes sinais de instabilidade e até mesmo
de desagregação. A consulta da imprensa brasileira revela sinais de uma crise
profunda, em que sobressai a fraqueza do Estado e das instituições, mas também uma
situação económica fragilizada pela recessão e pelo desemprego e um quotidiano
de insegurança e de incerteza.
A
propósito da rebelião do presídio de Manaus o jornal Estado de Minas
classifica o ambiente do sistema prisional brasileiro como bomba-relógio, mas
esse alerta é porventura mais profundo e pode aplicar-se a outros sectores da
sociedade brasileira, que não apenas o sistema prisional.
A
imagem externa do Brasil deteriorou-se enormemente quando há poucos meses foi
destituída a Presidente Dilma Rousseff, como consequência de um confronto de
facções político-partidárias. A democracia brasileira abriu uma profunda brecha
e saiu muito enfraquecida do processo de “impeachment”, ao contrário do que foi
dito. A confusão no topo do Estado contagiou outros escalões. O sistema
político brasileiro abriu uma caixa de Pandora e viu-se o novo governo de
Michel Temer a perder ministro sobre ministro, sob acusações de corrupção.
Muitas instituições federais ou estaduais têm revelado alguma incapacidade para assegurar a
harmonia social, para promover a recuperação económica e para dar confiança aos brasileiros.
É preciso que a rebelião de
Manaus tenha sido apenas um caso isolado e que não haja qualquer bomba-relógio
no horizonte brasileiro.