quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Mugabe e o 25 de Abril do Zimbabwé

Na passado dia 15 de Novembro eclodiu um movimento militar no Zimbabwé a partir de Harare, tendo os militares bloqueado os acessos aos edifícios do governo e do Parlamento e ocupado as instalações da televisão. Ouviram-se explosões na cidade e foi anunciado que o Presidente Robert Mugabe estava detido e sob a protecção dos militares. A intenção dos militares não era clara, mas insistiram que não se tratava de um golpe de estado. Sucederam-se episódios diversos e a população começou a agitar-se nas ruas para exigir a demissão de Mugabe, não só pelos seus 93 anos de idade e 37 anos de poder, mas pelas suas práticas ditatoriais e comportamentos impróprios num estado democrático.
Mugabe ainda reapareceu em público mas recusou demitir-se. Na passada terça-feira, dia 21, não aguentou a pressão e renunciou à presidência através de uma carta enviada ao presidente do Parlamento em que dizia: “Eu, Robert Gabriel Mugabe, entrego formalmente a minha renúncia como Presidente do Zimbabwé com efeito imediato. Renunciei para fazer uma transferência de poder tranquila”.
O herói da independência que lutou com armas na mão contra o regime racista de Ian Smith e que estava no poder desde a independência do país em 1980, foi esquecido. O povo não lhe perdoou os excessos e saiu à rua para celebrar festivamente o seu afastamento. Em Harare ouviu-se um monumental concerto de buzinas e houve festa por todo o lado. Tudo normal em situações como esta.
O que não foi normal foi esta operação político-militar que, sem tiros nem confrontos, conseguiu afastar um ditador firmemente agarrado ao poder. Até parecia um 25 de Abril no Zimbabwé. A imprensa internacional acompanhou de perto esta situação e The Economist até dedicou a sua primeira página à queda do ditador.

Uma oportunidade para a paz na Síria

Desde há muito tempo que as notícias sobre a guerra na Síria eram muito escassas e que era muito difícil compreender a evolução de um conflito em que há muitos e bem diferentes envolvimentos e alianças. Porém, nas últimas semanas surgiram notícias de algumas derrotas do Daesh, quer no Iraque, quer na Síria, embora nem sempre se soubesse quem derrotou quem.
Apesar deste quase vazio de informações, nos últimos dias pudemos ver Hassan Rohani a declarar a derrota final do Daesh, depois ver Bashar Al-Assad a visitar a Rússia e a ser abraçado pelo seu Presidente e, por fim, ver Vladimir Putin a juntar à mesma mesa em Sochi, os seus colegas presidentes da Turquia, Recep Tayyp Erdogan e do Irão, Hassan Rohani. Significa que, em poucos dias, muita coisa parece ter mudado.
O jornal Tehran Times publica hoje a fotografia do encontro Putin-Erdogan-Rohani que abre uma enorme janela de oportunidade para acabar com o conflito, depois de seis anos de guerra que fizeram mais de 330 mil mortos. Vladimir Putin mostra-se confiante e declarou que serão necessárias concessões de todas as partes, incluindo do governo sírio, embora todos já tenham dado o seu acordo para a convocação de um congresso do povo sírio essencial para o estabelecimento de um diálogo inclusivo no país, a que se deve seguir uma reforma constitucional e eleições livres.
Nas últimas semanas e com o apoio russo, o regime sírio recuperou grande parte do seu território que estava sob o controlo de grupos rebeldes e extremistas e, segundo foi declarado, mais de 98% do território está agora nas mãos das forças do governo sírio, enquanto estão a ser eliminados alguns focos de resistência. É mesmo uma oportunidade para a paz na Síria.