Ninguém tem
dúvidas que a comunicação social portuguesa atravessa uma grave crise de ausência
de qualidade e de credibilidade. Ler jornais ou ver televisão é um exercício
doloroso para o leitor ou para o telespectador, que são confrontados com uma
informação sensacionalista e até inverdadeira, desproporcionada,
repetitiva, desinteressante, servindo interesses particulares e que, por vezes,
é escandalosamente mentirosa. Naturalmente, há algumas excepções mas isso são
raridades, porque ab initio os meios
de comunicação estão alinhados com interesses, mais ou menos escondidos, além
de lutarem pelas audiências e pelo bolo publicitário.
Numa altura em
que muita coisa importante acontece e em que há uma grande incerteza no mundo,
a futebolite voltou a tomar conta da
nossa comunicação social, não para assinalar qualquer acontecimento desportivo
relevante, mas apenas para promover a chegada de um treinador de futebol arvorado
em messias e da sua enervante vaidade pessoal. A cobertura mediática deste
vulgar episódio, que até talvez merecesse uma notícia de rodapé numa página par
do jornal, foi intensiva e extensiva, transformando-se numa acção de propaganda
que teve a cumplicidade dos jornais e das televisões. Nem A Bola resistiu a esta
loucura mediática.
Durante muitos
anos, o prestígio de Cândido de Oliveira fez daquele jornal uma referência da
imprensa desportiva e o jornal português de maior difusão. Era considerado como
a bíblia do futebol e as suas edições
chegavam a todo o mundo, parecendo que por vezes até serviam para que os
leitores aprendessem português. Porém, “mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades”, como escreveu Camões. Esquecendo aquilo a que o próprio jornal no
domingo chamou “domínio azul”, tratou de se submeter servilmente à onda mediática
dominante e assumir-se como porta-voz de um homem que é treinador de futebol
e que nem sequer é benfiquista, destacando-lhe os seus disparatados dislates
como aquele “vamos arrasar”. Qual é a seriedade de A Bola, agora
escandalosamente alinhada com um treinador que promete arrasar? Arrasar o quê
ou arrasar quem? Os benfiquistas que se cuidem porque, mesmo com os favores que A
Bola faz a este treinador, cuja arrogância faz lembrar uma espécie de Trump
ou de Bolsonaro do futebol, vão ter uma caminhada difícil pela frente. Ou será que acreditam neste malabarista e nesta orquestração?